quarta-feira, setembro 22, 2010

No chão.

Lá se vai, quase desfalecendo
Bem calmamente, parece não agüentar mais
Vai suspirando, clamando e morrendo
Até que, cansado, no chão ele cai

Queda difícil, machuca os joelhos,
Traz traumas, vergonha e até desespero
É triste o momento e a visão é tão feia
Daquele cuja fé não é nem centelha

E então, já não importam os insensíveis
Quando ele próprio nada sente,
E já nem faz questão de se preocupar
Pela indiferença, ele disfarça e mente

Não há vontade, nenhum fervor
Abriu-se um rombo no mundo
É como ser estrangeiro, sem teto e dinheiro
É a vida sem rumo de um falido herdeiro

“Cadê o argumento, a causa, a razão?
Quem deu o direito de me jogarem no chão?
Me deixem chorar, me deixem entender
Esse descaso, esse abuso “cristão”!”

No jogo da fé e da religião
Murcharam a bola do bom campeão,
Bateram sem punho, com boa intenção
Explicaram a dor com um velho jargão

Deus, tu és Santo, visita teu filho,
Retira-o da poça da humilhação
Relembra tua obra, o auxílio divino,
Respira em sua face, o faz levitar...

É mágica tua mão de socorro, ele sabe
É sincero teu bem querer, ele crê
Dá-lhe tua chancela, levanta o pobre caído
O santo remido que Teu Espírito vê
Ele é teu filho e te espera ansioso
No buraco barroso que o fez se perder...

Deus, tu és Santo, visita teu filho,
Retira-o da poça da humilhação
Relembra tua obra, o auxílio divino,
Respira em sua face, o faz levitar...
Ele é teu filho e te espera ansioso;
Sabe que só o Pai amoroso
O pode encontrar.

quarta-feira, setembro 08, 2010

A Santa Perseguição.

Como dizer de maneira diferente aquilo que já foi dito? Como reafirmar o que já foi diversamente registrado? Eu não sei. Mas às vezes surge essa vontade de dizer novamente o que já se sabe há muito tempo. Deus me persegue. Ele não me acompanha nem me acha. Ele me persegue, gruda mesmo, não me larga, não se afasta. Estranho demais isso. É estranho pensar no divino tão próximo, tão íntimo e tão leal. Eu não sei bem como funciona esse amor do Criador pelo ser criado, mas penso que as criaturas aqui não poderiam inventá-lo do nada, tirar esse amor da cartola... A quem pensa que o homem criou Deus, meu parecer: o homem não é tão humano assim! Só mesmo a matriz do ser humano, o seu projetista, poderia e pode nos fazer recordar, relembrar nossa profunda condição de carência, de gente que chora e sofre de solidão. Só mesmo um Ser tão maior que nós poderia ser mais humanos do que nós conseguimos. Tudo isso é estranho, mas inegável.

O fenômeno da graça, esse privilégio dado a quem nunca teria cacife pra receber, faz com que o divino e o humano, o poder e a fraqueza não somente se encontrem e convivam, mas se fundam! É complicado pra nossa razão fantasticamente limitada admitir a realidade de uma nova natureza, nascida de um encontro eterno. Deus e homem são reconciliados e redimidos na cruz. Sim, porque Deus não falhou nem se conformou à rejeição humana. Deus não presumiu que ser divino era o bastante. Deus não se garantiu em seu status quo porque desde sempre a sua mente era a mente do “adorado e amado”. Outra coisa estranha, mesmo que óbvia: Deus de verdade é Deus amado e não somente enaltecido. Deus de verdade é aquele único que consegue ser amado, desejado, querido e buscado com todo o coração, alma e entendimento. Ora, esses tantos deuses-ídolos alvos de bajulação interesseira parecem mais escandalosamente inferiores, baixos, vulgares... O Santo que é Justo é também um Deus de amor e afagos.

É esse Deus que me cerca por trás, por diante e põe a mão sobre mim. Pensar nessa cena deveria provocar uma revolução em nossa maneira de viver. Deveria nos gerar uma confiança inequívoca de que não há solidão com Deus porque não somos mais aquilo que éramos. Nascemos de novo, temos sua companhia nas entranhas, os poros, no coração, na mente, no corpo, em todos os lugares... Em todas as locações, ambientes e circunstâncias. É Deus que não deixa o homem. Esquisito; nada usual. Mas uma verdade. Verdade porque ele não enxerga a escuridão que nos cerca, atemoriza, envergonha. O Deus da luz enxerga tudo e nos alcança através de tudo, não importa quão espessa seja a camada de trevas... Bobagem, Ele não pede licença, passa e caminha por onde quer pra fazer o que tem em mente. É um Deus incontrolável. Alguém que não se restringe nem se acanha ou melindra com nada. Nem com o mal que me cerca e sufoca, nem com a dor que me cega... Nada é barreira, nada nos separa, não há mais véu.

Sim, como o salmista desabafa: tal conhecimento é grandioso demais para o ser criado, que mesmo tendo muito a criar, permanece criado, restrito, limitado e absurdamente frágil. E como explicar esse valor que Ele, o Senhor Todo-Poderoso, aplica a nós a ponto de tanto desejar o nosso amor, de tanto querer nos dar do seu amor, sendo adorado ou não?! Mas que maravilha de amor! Que maravilha de Deus veio viver em mim!

quarta-feira, setembro 01, 2010

Até hoje, o que você fez?


Há poucos anos atrás, tirei um tempo para conversar com um grande amigo – desses raros, que sabem ouvir com a alma e verdadeiro interesse pelo que está além das palavras - e ele, em sua doce empatia, compartilhou comigo uma lição que lhe ensinaram a respeito do amor. Ele dizia que uma vez se interessou por uma mulher e foi conversar com ela a respeito de seu sentimento. Disse a ela que gostava muito dela, que a via como uma pessoa realmente especial. Qual não foi sua surpresa ao receber a resposta sincera da moça: “Ok, é muito bom saber que você me considera e tem esses sentimentos por mim, querido. Mas eu preciso te fazer algumas perguntas bem sérias: Até hoje, o que você fez em relação a mim a fim de demonstrá-los? De que forma você age para fazer com que eu realmente me sinta especial pra você? Lamento ter de dizer isso, mas até hoje você não fez absolutamente nada neste sentido e, infelizmente, seu interesse por mim não é o bastante pra mim. Com toda a franqueza, não me lembro do nome nem faço idéia de quem é a tal mulher que lhe disse isso, mas tenho absoluta certeza de que suas palavras tocaram o caráter daquele rapaz e vieram ao encontro de tudo aquilo que eu sentia naquela ocasião e, por isso, jamais esquecerei desse princípio.

Eu sempre entendi o amor dessa forma em que ela resumiu. O amor precisa ser factível, quase palpável. Além disso, ele precisa ser exeqüível... Qualquer coisa menor que isso deve ser considerada como sentimentalismos infantis ou qualquer outra ilusão cretina. O amor platônico, do mundo das idéias e das hipóteses, não é nem de longe parecido com algo digno e dignificante. Ele confere cargas e injustiças para os dois lados e se alimenta da mentira diabólica. Ele é o mal camuflado de bem, pois é egoísta e manipulador. É o interesse utilitário, frívolo e absolutamente leviano, que se expressa bem em palavras e atitudes menores, fáceis e aleatórias. É inconstante porque, de tanto sonhar, foge da urgência real e nunca está presente quando poderia ser necessário e até útil. De fato, nunca será útil, uma vez que é inconveniente e ensimesmado. Como seria bom se mais homens e mulheres acordassem para a honestidade de seus sentimentos errados. Haveria mais espaço para o verdadeiro amor nascer se grande parte das pessoas não se contentasse com tão pouco e não se rendesse ao que não importa. Mas para muitos, ainda é preferível fingir pra agüentar o tranco. Fingir que ama e fingir ser amado. Há quem prefira viver mal-amado e mal-amando contanto que não se precise provar nada; contanto que não precise abrir mão de nada. Quão infeliz é esse “amor” que limita!

E, pra variar, minha memória trabalha em torno das palavras de Cristo, aquele que soube amar até o final e desde sempre... Aquele que não se deixou impressionar pelas performances humanas e nem agiu antes de sentir. Lembro que Jesus comprovou a qualidade do que sentia por nós sem a tagarelice dos discursos óbvios e convenientes e sem a vaidade típica de quem ama muito menos do que deseja fazer crer. Em contrapartida, foi ele mesmo que exigiu a prova, mostrando que o amor que estava disposto a receber deveria passar pelo crivo da coerência e da transformação do caráter. “Pedro, você me ama? Então faça aquilo que eu faria”. “Pedro, você me ama? Prioriza o que toca a minha alma”. “Pedro, você me ama mesmo? Tome as minhas dores pra você!” “Pedro, você me ama? Transplante o meu coração para o seu peito, sinta o que eu sinto, seja um comigo!” O verdadeiro amor nos evolui.

Quem entende a verdade do amor não pode mais viver e agir da mesma forma, negando ao ser amado o devido resultado de quem se doa. Quem decide viver o amor de Deus não é capaz mais de fingir ao outro que ama errado. Quem assume o amor, assume a conta, seu bônus e ônus. Quem ama de verdade faz da vida do ser amado a sua própria e já não aceita mais que ele morra por causa de sua omissão.

Louvo ao Pai amoroso por ter amigos que me ensinam a amar. E fico extasiada em pensar que o amor de seu filho me dá o direito de viver além do que eu seria capaz se me rendesse à camuflagem dos amores falsificados, encharcados da perversidade do orgulho e do medo. Sempre guardarei em minha consciência o quanto é belo e profundo o amor que dá continuidade à vida de quem até mesmo já morreu... Porque o verdadeiro amor nos prova... E nos joga na vida.

sexta-feira, julho 09, 2010

O que eu realmente desejo.

É aquilo que ninguém sabe, é aquilo que não se pode ver...aquele pressuposto que, na verdade, é raro...uma carência real. É a tal da fome de Deus; a sede, a ânsia profunda pelo que nem se sabe dimensionar. Vontade imensa e sincera de querer ter os olhos abertos, de poder enxergar outras coisas, mas ainda não é o tempo.

A alma também celebra suas saudades e às vezes, em meio a isto, acaba se encontrando em sentimentos paradoxais, inexplicáveis. Como essa ausência querida mas sofrível. É porque esse mundo não me basta; eu já fui convencida por outra coisa. Há um bem em mim e minha esperança é urgente. Mas preciso conviver, preciso me agarrar ao que é contingente, preciso dar sentido às avessas...pareço justificar a eternidade e às vezes me sinto frustrada por não saber o que quero porque o que eu quero é mais. É Deus, é a essência do que falo sem saber; é a grandeza que divago sem alcançar. Mas é incerto, mesmo com todas as certezas e convicções, é inseguro. Está preservado na fé, mesmo que a fé não abrace seus limites...eu ando em suspenso.

Meu corpo quer ser revestido, meus sentidos elevados. Meu coração quer não perguntar mais, minha mente quer se reclinar...é a busca da prostração real, legítima e última. Porque eu sei o que quero e o que eu quero é mais.

Enquanto isso, me recolho em momentos vagos...não há como preenchê-los com o que não chegou, com o que nem sequer existe em mim (apenas como súplica). O grande Deus me vê, o Altíssimo me toca pra eu saber que ele é tudo isso por que vivo. Ele entende minha fome e minha sede, Ele me deu como resposta feliz e alternativa a toda realidade de mentiras e superfície desta terra, desta vida. Ele me respondeu com a pergunta da minha alma. E isso é voz que ninguém ouve, que nem ressoa. É sua realidade em mim.






terça-feira, maio 11, 2010

Esse amor surpreendente

O amor de Deus pode a tudo alcançar. Pode trazer recomeços a quem só enxerga o próprio fim. É capaz de finalmente curar o desespero e abatimento de espírito daqueles que estão exaustos de bater à porta.

O Deus que se revelou em Cristo é bom e sabe sorrir. Mesmo quando a resposta esperada é a punição, ele é capaz de mostrar um “caminho sobremodo excelente” (I Co 13.1). E nesse caminho, de fato, há gente prostrada, há gente à própria sorte. Gente que se inchou e se apertou na via estreita; gente que desanimou e resolveu parar. Gente tomando fôlego para continuar e gente querendo voltar atrás.

Mas a grande bobagem está em acreditarmos num amor pontual, reservado para os finalistas, os atléticos do bem... Sim, há recompensa para os fortes e resistentes. Para aqueles que não fazem do caminho estreito uma desculpa para sua indisposição e descaso. É claro...há prêmio e alegrias maiores reservados para os que correm para o alvo com paixão e comprometimento.


Entretanto, convenhamos, o amor de Deus não é estático, tampouco indiferente. Não se trata aqui de uma adulteração humana que transfigura o amor em um “discurso orgulhoso do bem que espera fazer”. Pelo contrário, temos ouvido e visto falar de um Deus que ama em iniciativa, que busca suas ovelhas, que se rebaixa à condição humana, que chama pelo nome e se apresenta sem cerimônia. Por isso é possível crer que esse amor nos alcança no caminho e, mais que isso, no caminhar. Não se reserva a camarotes privilegiados dos grandes campeões mas, sobretudo, é a fundamental segurança de assessoria e companhia na caminhada. É água e alimento para os subnutridos e inspiração para os abatidos. O amor de Deus é mais do que temos esperado e sentido. Ele é a grande e alegre notícia de que podemos vencer o medo de seguir em frente.


“Jesus chamou seus discípulos e disse: ‘tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que eles estão comigo e não têm o que comer. Não quero despedi-los em jejum, para que não desfaleçam no caminho’”. (Mt 15.32)

terça-feira, maio 04, 2010

Força para viver. (tinha que ser do Ed René Kivitz...)

Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.

Viver é muito perigoso, dizia Guimarães Rosa pela boca do memorável Riobaldo. A vida tem mesmo seus altos e baixos e, além da dificuldade de saber a direção, falta a cada um a força e a competência de seguir em frente. Os obstáculos se multiplicam. A vida é contingente: cheia de imprevistos e surpresas, boas e ruins. Uma proposta para morar longe, um diagnóstico inesperado, a chegada de um bebê, um assalto, um desmoronamento, o cancelamento do vôo, a festa de aniversário, os amigos ao redor da mesa e a demissão inesperada. Além disso, a doença da mãe, o imposto de renda, as aventuras dos filhos e o sobrepeso, obesidade mesmo, denunciada pelo espelho e pela calça que já não se usa mais. E tem também a teimosia dos vícios, as dores da alma, a insegurança emocional, os conflitos relacionais, a culpa, o medo, a ansiedade e a síndrome do pânico – ai que medo. Tem que arrumar o quarto, buscar a roupa na lavanderia, votar para presidente e superar o divórcio. O show não pode parar. E porque viver é muito perigoso, aprender a viver é imperativo.

Como enfrentar a travessia? Já que navegar é preciso e viver não é preciso, como dizia o poeta português. Viver é necessário. É preciso viver, não há que desistir da vida. Mas viver é perigoso, justamente porque não é preciso – não é exato. Não é possível singrar a vida como quem corta os mares. A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá, disse o Chico brasileiro.

Acho que foi por isso que o sábio Salomão começou a escrever seu Eclesiastes. Queria aprender a viver. Dedicou o coração para saber, inquirir e buscar a sabedoria e a razão das coisas. E concluiu que a verdade está no distante e profundo. A vida é mistério. Viver continuará sendo sempre perigoso.

Então apareceu Jesus. Não negou a contingência da vida, nem iludiu os seus com promessas falsas e fantasiosas. Mas apontou um caminho. Apresentou seu Pai aos homens e os homens ao seu Pai. Autorizou todo mundo a buscar, usar e abusar de seu Pai.

Jesus disse a todos: Chamem pelo Abba. Ele os ouvirá. Falem com ele em meu nome. Batam na porta. Busquem. Peçam. Gritem. Importunem meu Pai, de dia e de noite. A porta se abrirá. Vocês acharão o meu Pai. Vocês receberão respostas. Serão recompensados pela sua busca, jamais ficarão sem galardão. Meu Pai é atento e cuidadoso. Meu Pai é bom. Meu Pai é amor. Não tenham medo dele. Não se escondam dele. Não fujam dele. Corram para os braços dele. Ele cuida de flores e passarinhos. Vai cuidar de vocês. Sigam os meus passos. Foi o que fiz. Fechem a porta do quarto e façam suas orações. Eu atravessei a vida de joelhos. E venci. Eu venci o mundo, eu venci o mal, eu venci a morte. E vocês também poderão vencer. Não desistam. Não tenham medo. Viver é perigoso. Mas a graça do meu Pai é maior que vida.

2010 | Ed René Kivitz

quarta-feira, abril 28, 2010

"O CAMINHO DE UM DISCÍPULO"

(- Reflexão por mim apresentada em 24/04/2010, na IB Lírio de Sião, por ocasião de seu primeiro culto jovem).

"O CAMINHO DE UM DISCÍPULO"
JOÃO 1.35-51


No dia seguinte João estava outra vez ali, e dois dos seus discípulos; E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus. E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus. E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais? E eles disseram: Rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde moras? Ele lhes disse: Vinde, e vede. Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia; e era já quase a hora décima. Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que ouviram aquilo de João, e o haviam seguido. Este achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo). E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro). No dia seguinte quis Jesus ir à Galiléia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me. E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José. Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê. Jesus viu Natanael vir ter com ele, e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo. Disse-lhe Natanael: De onde me conheces tu? Jesus respondeu, e disse-lhe: Antes que Filipe te chamasse, te vi eu, estando tu debaixo da figueira. Natanael respondeu, e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus; tu és o Rei de Israel. Jesus respondeu, e disse-lhe: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? Coisas maiores do que estas verás. E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.


 INTRODUÇÃO:

A partir do verso 1.19, João o Batista aponta para Jesus como Cordeiro de Deus, enviado ao mundo e, agora, revelado a Israel.

(Jesus volta ao mesmo lugar – Betânia >>> OPORTUNIDADE)

No dia seguinte, ao reafirmar que Jesus é o Cordeiro de Deus, dois de seus discípulos começam a seguir a Jesus.

 Jesus sabe de nossas dificuldades em aceitar o que é novo; em aceitá-lo, de fato. E é por isso que ele “passa” por nós...Ele nos dá diariamente a oportunidade de conhecê-lo mais de perto. Insiste. Mas para isso precisamos levar a sério as coisas de Deus e sermos sensíveis à pessoa de Jesus.

 Precisamos mais e mais de homens e mulheres como João Batista hoje em dia. Pessoas que ensinem sobre Jesus de forma honesta e empolgante!

 Em algum momento da nossa vida fará fundamental diferença a decisão de seguir a Cristo, além de “ouvir falar dele”. É necessário também que haja uma real decisão de estabelecer a proximidade com a pessoa de Jesus, como aqueles discípulos fizeram.

 Jesus perguntou aos discípulos: “O que vocês querem?” / “Que buscais?” / “Que procurais?”

 E esta é uma pergunta chave no ministério de Jesus. A todo momento ele pergunta àqueles que o seguem sobre os desejos e as motivações do seu coração. É uma pergunta inquietante, que busca resposta sincera e verdadeira. NÃO HÁ COMO CAMINHAR COM JESUS SEM ENTENDER A NECESSIDADE DE RESPONDER A ESSA PERGUNTA.

 O que queremos ao caminhar com Jesus? (isso tem a ver com nossa MOTIVAÇÃO e nosso OBJETIVO)

 Há pessoas que sequer conseguem responder a isso! Acreditam que circularem entre os que andam com Cristo é o suficiente. Vivemos atualmente um “evangelho” de multidões, de grupos de interesse, mas não são esses que Jesus tem chamado para serem seus discípulos. Esses servem para a multidão, mas não para conhecerem a sua casa!

 Os discípulos respondem prontamente: “Onde moras?” / “Onde estás hospedado?”

 Aqueles homens mais uma vez não se contentaram em ver o Jesus público; eles queriam entender quem era aquele homem, aparentemente tão comum, tão parecido com eles...o que fazia dele um profeta, o Messias? Com quem ele vivia, como era seu comportamento?
 Eles queriam verdadeiramente ver o que João via: a diferença, a razão de ele ser a salvação de Israel. Em nossa vida também somos diariamente desafiados a ver em Jesus algo mais profundo, mais íntimo e essa deve ser a maior busca da nossa caminhada.
 Aqueles eram de fato homens especiais! Não se contentavam com informações, impressões e atos mecânicos. Queriam conhecer o salvador.

 Jesus nos ensina a não resistirmos a isso: “Vinde e vede”.

 Nos nossos relacionamentos, precisamos expressar o evangelho como abertura, como acolhimento, como profundidade na vida das pessoas.
 Não podemos fugir, como a sociedade hoje nos encoraja: “eu moro ali, perto da pracinha...” Precisamos abrir nosso lar, compartilhar da nossa vida com as pessoas.
 Foi assim que Filipe agiu com Natanael. Ele reproduziu a postura de Jesus: “Vem e vê” (v.45). Ele o levou até Jesus.

ONDE ESTÁ JESUS HOJE?

Jesus vive sua vida em nós. Convidar alguém para o evangelho é se comprometer com esse alguém com a própria vida.


 Glorifico a Deus pela vida de pessoas que agiram como João o Batista para comigo, compartilhando de tudo o que receberam dele comigo.

 Glorifico ainda mais a Deus pela vida do próprio Jesus, que gastou toda a sua vida comigo. E me concedeu a sua vida.

 Mas eu entendo que o grande desejo de Deus é que eu e você sejamos capazes de mostrar o Jesus que habita em nós. De nos envolvermos em relacionamentos tão profundos que signifiquem não somente seguir o mesmo caminho, mas sobretudo caminharmos juntos.


(Exemplo: A diferença das pessoas andando pela mesma rua juntas e separadas – Imaginemos uma rua que represente o caminho de Jesus. Durante o dia, centenas de pessoas passam por essa rua, em horários variados. Para os que estão na periferia, observando, tal caminhar não causa nenhum tipo de impacto, uma vez que cada um caminha como quer, sozinho. Mas imagine o mesmo número de pessoas caminhando juntas, solidárias e no mesmo passo. A dinâmica é transformada. Ocorre impacto aos olhos de quem observa a rua; a caminhada se torna diferente, pois todos compartilham o caminho, o espaço, os tropeços e vestem a mesma camisa... ).


Que não nos contentamos a receber e dar informações sobre Deus. Mas que desenvolvamos relacionamentos profundos com o Senhor e com as pessoas.

terça-feira, abril 27, 2010

O tudo é tão vazio sem Jesus.

A força que hoje sinto no meu peito a pulsar,

Me anima a crer somente, vencer tudo,

Mas eu sei

O tudo é tão vazio sem Jesus


Minha alma, descansada em suas bênçãos, se acalma

Poderia encontrar tudo o que deseja,

Toda sorte de sucesso que almeja

Mas tudo é tão vazio sem Jesus...


E NADA em minha vida pode se comparar

À doçura de minha união com Deus

Pois eu bem sei

Que bem mais que crer,

Que bem mais que ter,

É existir, me mover e ser tudo em Jesus


Ele é a fonte, é a origem

O princípio, meio e fim

Ele sacia toda falta, toda busca que há em mim

Ele é o pão, o melhor vinho, o meu óleo de alegria


Ele é tudo e mais, mais que tudo e além

E o tudo é tão perfeito quando é parte de Jesus!

quinta-feira, abril 01, 2010

“Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos.” (Sl. 19.1)

A melhor poesia foi escrita por Ti
Nas paisagens mais inacreditáveis posso te ver caminhar calmamente...pelos descampados, pelos morros a céu aberto...no crepúsculo e na alvorada mais brandos, mais excelsos...eu te enxergo bem.
Na tua obra magnífica eu consigo entender um pouco porque não podes perder tempo com coisas à toa, com as bizarrices do espírito humano. Tu caminhas entre os raios de sol e habitas com seres gloriosos. Tu és o mais divino de todos os poderes, o mais santo que há no céu. És, por natureza, distanciado de minhas debilidades e limitações e por isso, eu sei, é penoso ouvir meus lamentos e queixas.
Tu estás tão acima de minhas percepções, Senhor. Participas de maneira tão abrangente de todas as causas... Tu és mais sério que toda a minha noção de importância e urgência. O mundo grita por tua ajuda.
Onde estás agindo agora, Pai? Meu coração pergunta perplexo... Onde estás investindo teu braço forte, teu arsenal? Em que guerras tens ido à frente, lutando e comandando? De que batalhas tenho fugido, Senhor? Tenho me escondido nas trincheiras? (...) Em que demandas da minha alma tens prevalecido como guardião, como valente, como guerreiro? Onde estás trabalhando? Às vezes me sinto alheia ao que estás fazendo... Completa ignorante, alienada em minha humana pequenez. Tu és majestoso, forte, poderoso... Altíssimo, soberano... Muito acima de minhas palavras, códigos e construções mentais. Excelso Deus... Que se achegou a essa minúscula pessoa através do Cristo humano; absurda e incompreensível humanidade que tornou simples o Senhor da Criação, da natureza perfeita, do homem imperfeito. Sou tão grata por ver fagulhas, faíscas da tua soberania nas pequenas e perfeitas coisas... Sempre será tua a minha devoção, a honra que houver em mim.
Meu coração abriga lacunas gloriosas... Um bom tesouro com caracteres do céu...te identifico, te interpreto, te reconheço nos melhores sentimentos que há em mim. Sei que, estranhamente, estás presente na minha vida – justo eu, esta pessoa tão inadequada ao teu ser, à tua natureza!
Sonda meu coração, Deus santo... Faz a faxina que ele precisa... Olha as intenções e as lutas, as guerras, os embates que nele ocorrem. Vem com tuas milícias endireitar o meu caráter, as minhas súplicas, os meus desejos. Ajuda-me a me superar e a estar exatamente onde tu estás trabalhando... Não covardemente, escondida, mas como tua valente, tua guerreira, tua serva e filha fiel.
A minha oração é simples: age em mim, Senhor! Como Deus, como soberano, como justificador, como dominador da minha vida porque sou tua criação, tua obra, semelhante a Jesus... Semelhante a Jesus.

Amém.

terça-feira, março 23, 2010

Tu me amas com amor eterno.

Tu me amas com amor eterno
Com aquele mesmo amor que me atraiu à cruz
Em minhas lembranças sempre vejo o teu carinho de Pai, a tua proteção sempre foi óbvia, marcante em minha vida.
Eu te achei no perdão mais necessário da minha existência, no dia em que fui devastada pela dor, Senhor...abriste meus olhos, concedeste-me o teu espírito para que eu pudesse enxergar a graça e a esperança de viver com a tua vida poderosa dentro de cada espaço de mim.
Desde então e desde sempre te senti e também te amei...dividimos os dias e as noites, as angústias e vitórias, dividimos o melhor e pior de mim, dividimos tudo, Deus.
Hoje não há dúvidas; hoje não há medo a respeito desse amor que já me concedeu tudo...e mais. Jesus não foi apenas o meu resgate mas, sobretudo, é o maior tesouro da minha vida, o amor provado em todos os momentos, a transformação da minha consciência, a paz da real liberdade, a certeza inabalável, a esperança imortal...Jesus sempre foi, é e será tudo, todo amor com que me amaste, Pai...com que me abraças, Espírito Santo!
Jamais esquecerei que sou como a menina de teus olhos. Isso não é a conveniência de um ser carente, mas a convicção de uma pessoa tua.
Eu sou tua, Deus. Como sempre fui, como sempre serei. Sem dúvidas, sem medo. Eternamente.

Dá um pouco de amor para Deus

Dá um pouco de amor para Deus
Principalmente pelo fato de Ele não te cobrar
Dá, oferece, presenteia
Com um pouco de amor, abre mais teu coração

Não é preciso ser um gênio para notar
O quão desonesto é esse jogo de interesse
De quem vai ao Pai como bastardo, em busca de sua providência;
Quem ainda não vive como filho, quem não vê nem ama o Pai sempre o procura por interesse. Sempre requer sua ajuda, e às vezes até o julga em sua condição de Pai. Bastardos não amam o Pai. Bastardos não têm Pai...

Mesmo assim, o Santo Filho veio nos mostrar que todos podemos ser filhos; todos fomos criados para amar o Pai.
Mais que isso, todos fomos feitos por causa do amor de Deus.

Por isso – e melhor pensando -, dá todo teu amor a Deus
Voluntária e humildemente, busca-lhe para fazê-lo sorrir, elogia, exalta o seu ser!
Dá amor a Deus sem pensar no retorno, sem intenções dúbias, maldosas.
Dá do teu melhor amor.
Daquele mais sincero e maravilhado... Aquele amor genuinamente bondoso, sem a leviandade da obrigação.
Dá o teu mais forte e profundo amor a Deus.
Aquele amor que faz arder as lágrimas de quem não se imagina sem Ele, aquele ardor de quem o deseja como Senhor, de quem o adora em prostração, de quem discerne sua santidade.

O verdadeiro amor de um Pai encontra o verdadeiro amor de um filho
O verdadeiro filho ama seu Pai.

E quem ama, se oferece, se doa para o agrado e bem do outro.
Deus, o Pai, já deu tudo pelos seus filhos.
Se és filho, dá do teu melhor amor a Deus.




(Joseli Dias – 03/07/2009).

quarta-feira, março 10, 2010

ORDENAÇÃO DE MULHERES AO MINISTÉRIO PASTORAL.

* ensaio apresentado à disciplina Ministério Pastoral, no último período do curso de Bacharel em Teologia, pelo STBSB. Minha menção ao Dia Internacional da Mulher.


A temática da ordenação pastoral feminina não é nova, porém permanece sendo necessária no meio evangélico tradicional, em especial na Igreja Batista, onde a grande maioria das mulheres vocacionadas ainda não são convocadas ao concílio, salvo casos especiais.
Sou mulher. E, obviamente, fui menina, criada na denominação. Mesmo sendo muito envolvida nas atividades da igreja, é de se presumir que esta construção social em torno da ordenação pastoral feminina não despertasse minha atenção, em especial. Afinal, sou da época em que a maioria das igrejas batistas não acatavam as palmas, nem dançavam e tinham sérios problemas com o rock e as mulheres que vestiam calça...de toda forma, guardei na lembrança um episódio que muito me chamou a atenção, quando ainda era uma criança de 5/6 anos e estava ensaiando uma participação para o culto da manhã, juntamente com o coreto de crianças de uma modesta igrejinha Batista, em Tanguá – RJ:

Cristo tem amor por mim
Com certeza, creio assim
Por amor de mim morreu
Vivo está, por mim, nos céus
Ama os meninos,
Ama as meninas,
Ama os meninos
Jesus, o salvador1



Parece bobagem dizer, mas as palavras daquele hino surtiram efeito em minha débil noção infantil. Em sua inocência, esta criança se perguntou: Mas por que Jesus ama mais os meninos do que as meninas?! Ora, nada mais expressivo à sensibilidade de uma pequena garotinha do que a repetição do verso “Ama os meninos” no hino em questão, especialmente porque este seria dividido em vozes – os meninos cantariam os versos deles enquanto as meninas cantariam o verso delas.
A bem da verdade – e sem apelar - a realidade de nossas igrejas não tem sido muito diferente, na prática. É evidente que muitas barreiras sócio-culturais já foram transpostas com o passar dos anos, entretanto, permanece a distinção entre homens e mulheres, sobretudo no que se refere ao ministério pastoral – como nos convém neste ensaio.
Primeiramente, não se pode desprezar que a própria concepção de que “a mulher tem conquistado o seu espaço” já constitui, por si só, um paradoxo flagrante: o pressuposto de que a mulher já tem um espaço, mas que ainda precisa conquistá-lo. É concebido pelas maiorias que as mulheres permaneçam nesta “busca”, tornando ilegítimo e extraordinário um direito primário de nossa Constituição: o de que todos são iguais. De fato, os cristãos de hoje ainda têm muito que aprender com o evangelho de Jesus Cristo que, na prática, fazia valer este princípio. E esta também não é uma ideia inédita ou desconhecida para a maioria dos crentes, mas muito pouco praticada, de fato.
A questão do ministério pastoral feminino vem, mormente, sendo abordada a partir de uma teologia paulina mal fundamentada. Os textos são trazidos para a realidade vigente de forma abrupta, sem maior preocupação acerca das condições para sua aplicação. Remetendo-nos ao contexto específico é, sim, possível encontrarmos falhas de interpretação em textos como o de I Co 14.33b-35:

Como acontece em todas as igrejas dos santos, estejam caladas as mulheres nas assembléias, pois não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz também a lei. Se desejam instruir-se sobre algum ponto, interroguem os maridos em casa; não é conveniente que uma mulher fale nas assembléias.



Este texto, amplamente abarcado no argumento contra a legitimação do ministério pastoral das mulheres, pode ser caracterizado como uma glosa – uma espécie distinta de deuteropaulinismo, como nas palavras de Michel Quesnel:

Trata-se, provavelmente de uma glosa de escriba da época patrística. Por que tal conclusão? Porque a tradição escrita não é estável quanto a esses dois versículos e meio: certos testemunhos os situam em outro lugar, depois do verso 40. E, acima de tudo, porque, se eles fossem de São Paulo, o apóstolo se contradiria singularmente em suas afirmações. De fato, ele mesmo escreveu anteriormente, em I Co 11.5: “Mas toda mulher que ore ou profetize com a cabeça descoberta, desonra a sua cabeça” (...) mas está escrito que ela ora e, na Antiguidade, só se orava em alta voz. Está igualmente escrito que ela profetiza. Ora, como profetizar sem abrir a boca e sem falar? 2



Sendo comprovado o estudo de Quesnel, fica evidente que o texto não pode ser considerado legitimamente de Paulo, devido à contradição explicitada acima. No entanto, o que causa espanto é o fato de, na eventualidade de o referido texto ter realmente sido escrito por Paulo, existiria, assim uma imensa irresponsabilidade na aplicação do ensino. E isto se manifesta da forma mais lógica possível. Se o texto fosse escrito por Paulo, de fato, as mulheres deveriam, hoje, permanecer com as cabeças cobertas nas igrejas, e caladas. Ora, não é possível que a aplicação de um texto seja feita de forma unilateral. Pelo contrário, se hoje já é possível que a mulher “exerça um pouco do seu espaço” dentro da realidade eclesiológica, quer falando, profetizando, pregando, ensinando, visitando, ministrando, exortando etc, por que, naquilo que se refere à legitimação de seu ministério, ela não pode ser reconhecida? De todas as formas, as interpretações construídas sobre a realidade da mulher pastora, a partir de alguns textos paulinos – cuja cultura notoriamente se demonstra como fator preponderante, face às influências semíticas e greco-romanas da época – confirmam a maneira leviana como o assunto tem sido abordado pelas grandes lideranças da denominação, ao conferirem valor bíblico a uma questão política. Sim, pois se não fosse assim, as mulheres deveriam permanecer seguindo “os moldes bíblicos” do véu (cabelo comprido), do silêncio irrestrito e da ausência de opinião.

O que constrange e envergonha a denominação é o fato de mulheres legitimamente vocacionadas, capacitadas, dispostas e comprometidas não poderem ser reconhecidas pela igreja naquilo em que dedicam as suas vidas. São mulheres que, mesmo se formando neste seminário e servindo às suas igrejas como os demais colegas – homens -, deverão se contentar com o título de Bacharel em Teologia e o vergonhoso “tapinha nas costas” de sua denominação, que se esquiva da responsabilidade, atribuindo a questão ao foro íntimo de cada congregação. Ademais, o problema é político na medida em que se traduz como reserva de mercado, de modo que um ministério que também pode ser considerado e tratado como “profissão”3 confira benefícios somente ao gênero masculino – nada mais escandaloso para a igreja diante da realidade trabalhista de nosso país, que já não é um modelo de justiça. Ainda há um longo caminho a ser trilhado neste sentido. Não ignoremos, porém, que tais posturas adotadas e condescendidas pela igreja são capazes de saltar aos olhos e inquietar até mesmo um coração inocente de uma criança.



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Notas:

1. Primeira estrofe e refrão do conhecido hino “Jesus e as crianças”, nº 542 do CC – itálico nosso.

2. QUESNEL, Michel. Paulo e as origens do cristianismo. Tradução Paulo Ferreira Valério. 2ª ed. São Paulo: Paulinas, 2008. p. 126.
3. Não confundimos uma coisa com a outra. Utilizamos a comparação devido ao fator sustento corroborado pelo ministério pastoral nas igrejas, o qual é negado à mulher que o exerce.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Necessidades

Necessidades, temos muitas e das mais surpreendentes. Temos necessidade das coisas básicas, fundamentais à sobrevivência. Precisamos também de tudo aquilo que transcende e encanta, dos devaneios da beleza e da realização. Ansiamos e dependemos da continuidade, pois nossos finais felizes nunca se satisfazem com o fim em si mesmos.

Mas devemos ter por certo que há necessidades que não nos agradam a priori. São aqueles princípios e limites que muitas vezes nos frustram ou até desanimam. É o retiro da alma, o silêncio do coração turbulento, a mudez das muitas falas possíveis. Somos, de fato, cativos da paz, que nem sempre acontece sem esforço e sacrifício. Precisamos da estratégia da reflexão, do nosso lado mais intimista e íntimo. Sofremos com a distância de nossa própria consciência porque necessitamos do apaziguamento das necessidades mais alarmantes, das urgências que sufocam, dos grandes problemas que nos desafiam, das limitações que nos amedrontam.

Novas e surpreendentes necessidades são as que se revelam como boas porções das mãos doadoras, que acabam nos denunciando que não atentávamos para a carência dentro de nós mesmos. As necessidades que temos e não apenas nos sabemos ser responsáveis. O cuidado de nossa vida, à parte dos cuidados que nossa vida especula sobre o mundo.

Somos cativos da paz que construímos sobre as demais formas de apego.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Fé durante dias maus. (Meu artigo para o Jornal Batista - Edição de Agosto)

“Contudo, quando vier o Filho do Homem, porventura achará fé na terra?” - Lucas 18.8b.

Há tempos em que a igreja luta para ser aquilo que se espera que ela seja. Há séculos tem-se lutado pela pureza da fé e do Evangelho de Jesus. Há milênios, a espera pela volta do Filho do Homem tem-se feito durar. No entanto, esta não é uma verdade unilateral. Existe uma expectativa da parte de Deus a respeito dos que se dizem seguidores de Cristo. Permanece a nossa demanda, nossa responsabilidade como membros do corpo do Filho, de levar a sério a Missão a nós confiada. E pergunto-me: Como temos entendido essa missão? Em que termos a concebemos? Trata-se de uma empreitada rumo à divulgação da boa nova? Obviamente que sim. E somente isto?

O Senhor Jesus deixou para os seus a grande responsabilidade e privilégio de não somente pregarem o Evangelho, como também de fazerem discípulos dele. Desde sua gênese, a mensagem de Jesus se constitui como uma revisão de vida e não somente uma ideologia a ser aderida, admitida. O que nos aflige a alma em nossos dias é que possamos fazer desta simples verdade qualquer coisa diferente disto. E é sempre perturbador falar desta simplicidade, porque a grande maioria já julga conhecê-la, o que pressupõe ser esta uma realidade vivida, praticada pela maior parcela dos cristãos. Contudo, o que se vê em nossos arraiais, na prática, parece contradizer aos berros que o coração de muitos cristãos estejam enlaçados à mensagem de Jesus. E uma temeridade é que talvez este distanciamento não se deva ao desconhecimento, à ignorância a respeito de suas palavras. A bem da verdade, é tendencioso - porém não inautêntico - se afirmar que a grande crise de nossas igrejas seja a permanente fragilidade de caráter, mas este não é ainda um discurso satisfatório, pois se arrisca a passar por moralista ou, no mínimo, reincidente. Mesmo assim, mesmo com tanto “conhecimento da verdade do Evangelho”, ainda travamos séria luta contra o pecado interior, pessoal e/ou coletivo; contra a fraudulenta máquina de piedade que transforma muitas congregações em casas de entretenimento e autopromoção. E, estejamos certos que este não é um privilégio das igrejas neopentecostais, nem das comunidades evangélicas e outros ministérios do gênero. Isto é intrínseco a nós, homens e mulheres dotados de absoluta alienação da santidade deste Senhor que está pra voltar. Pessoas que ainda cedem facilmente à conveniência, enquanto outras são desafiadas solenemente por sua incoerência ou cinismo.

O alarme que sempre ecoou aos ouvidos dos que um dia ouviram “o que o espírito diz às igrejas” parece ser abafado à medida que a pura fé em Cristo cede espaço a toda e qualquer satisfação cujo resultado exclui ou minimiza sua honra. Talvez a confusão se dê justamente porque nem sempre honrá-lo traga resultados aparentes e imediatos. É preciso que se diga que, ainda assim, é fundamental darmos crédito à nossa pregação.

A parábola narrada por Jesus em Lucas 18.1-8 fala de um juiz iníquo, que a ninguém honrava, e de uma viúva com um sério problema a ser resolvido: um adversário. Ao fim da narrativa, Jesus deixa claro que, apesar da ausência de caráter do juiz, a viúva teve seu pedido aceito, devido à sua perseverança. A grande luz deste texto é que ele não reflete a força da insistência que devemos ter em pedir coisas a Deus, como propõe grande parte das interpretações, mas sim que a viúva continuou crendo contra as circunstâncias desfavoráveis: o adversário e o descaso do juiz. A beleza deste ensino de Jesus é justamente focada na fé da mulher. Esta fé que a permitia não somente insistir no que queria, mas sobretudo não se render ao seu adversário. A fé que a forçava a insistir com um juiz corrupto a respeito da autenticidade de seu pedido, de sua relevância, de sua seriedade. Talvez seja justamente esta a fé que nos falta, da qual temos profunda carestia. A convicção capaz de nos firmar nos valores bíblicos e, muito além deles, transformar nossa existência como seres humanos. Não seria esta a fé ansiada pelo Filho que retornará a nós como juiz? Acontece que se nem mesmo os homens e mulheres de Jesus valorizarem seu relacionamento com Deus e com o próximo a partir desta suma importância, como esperaremos a renovação de todas as coisas? Não por acaso, esta parábola segue tantas outras em que Jesus ensinava sobre o Reino de Deus. Um Reino que deveria ser vivido pelos crentes, acima de qualquer outra expectativa terrena. Um Reino sem fim, de justiça e amor. Mas o que explica tamanha inadequação de tantas de nossas atitudes a este reino senão a ausência de fé em sua existência, o descrédito quanto a sua veracidade? Sobre este Reino de Deus, o transformamos em fábula, ficção? Por que cedemos ao adversário e desistimos de lutar pelos valores deste Reino senão por ausência de fé?

A fé em Jesus Cristo nunca foi somente o conhecimento sobre seus ensinamentos, tampouco de sua pessoa. A fé que converteu a maioria dos apóstolos foi professada nos detalhes de suas vivências. Foi prorrogada na ausência do mestre. Foi a prioridade de suas vidas. A fé mais pura e verdadeira foi aquela proferida enquanto o Senhor estava “escondido”, oculto, em expectação. Hoje, ainda, há cristãos lutando pela proeminência desta fé convicta, nada óbvia, durante dias maus. Sejamos destes que, dignamente lutam contra os poderes indignos, que resistem aos adversários permanentes e à conveniência de nossa realidade como Igreja. Se o caminho a ser seguido nos for estreito de fato, confiemos na justiça do bom juiz que nos aguarda ao seu final.

quinta-feira, julho 16, 2009

Vem aprender

Se fartou de esperar
Já perdeu, já cansou
Se moveu de lugar
Já parou, desistiu
Se convenceu que não dá mais
Se abortou, calou os ais
Mas no Mestre percebeu
Que a vida é dura
E precisa caminhar

Quando não há como ir,
Nenhum passo dar a mais
Quando chega a doer,
Quando já nem dói mais...
É mister recorrer
Aos doces pés de um rei
Tão fiel
Que o caminho ao céu refez

Volta já, olha Deus!
Vem se entregar...
De joelhos, se prostrar e adorar
Deus recebe o teu chorar

Volta já, clama a Deus!
Vem se entregar...
De joelhos, se prostrar e adorar
Deus te ensina a caminhar

Vem aprender de Jesus,
O manso e humilde Jesus
Vem aprender de Jesus,
Que seu fardo carregou

Vem aprender de Jesus,
O calmo e humilde pastor
Vem aprender do Senhor
Que perseverou em te amar.




(em Junho deste ano)

quarta-feira, julho 15, 2009

Caminhos Aplanados (Jorge Camargo)

“Bem aventurado o homem cuja força está em ti
Em cujo coração se encontram os caminhos aplanados.”
(Sl. 84.5)

No lugar de mais difícil acesso
Entre as escarpas mais íngremes
No solo duro e irregular
Nascido dos conflitos contra o tempo,
Das agruras da dor,
Dos desenganos -
Lá reside o meu coração

Ali moram os meus desejos,
Minhas inclinações, ambições
Planos e projetos
Que a ninguém...ninguém....
...Confio.

Uma transformação topográfica e urbana em um lugar assim
Só pode ser promovida
Pelo paisagista, pelo arquiteto que o concebeu
Por quem o amou antes
De vê-lo como está,
O amou antes
Que viesse a existir,
O amou a ponto de concebê-lo
E há de amá-lo
Mesmo se deixar de ser lugar
Para ser lugar comum.
Ou se for de passo em descompasso
Até chegar a lugar nenhum.

No dia do não-dia
O coração há de encontrar
Posta sobre a sua mesa
A ceia da restauração:
Pão fresco e quente,
Óleo de azeite amaciante para o chão da alma,
E a taça cristalina
Repleta do melhor dos vinhos.

sexta-feira, julho 10, 2009

Pureza.

Ah...a doce pureza que viajou
Que já não é figura fácil em nossas vidas
Que deixou a saudade da inocência mais bonita
Essa verdade boa de quem espera além

Ela mesma é a essência do que é forte e concentrado,
De tudo aquilo que é homogêneo e sem adulterações
A suave graça das convicções e das firmezas de caráter
Ah...a doce pureza que vaga...
...que se tornou tão vaga pra nós

Em sua ausência, toda dor é amargura,
Toda busca inútil, toda fé ilusão
Sua lembrança nos abala, alarma a consciência
Evoca um novo esforço,
Pede sua urgência

Grande obra de Deus, digna atitude do servo
Aprazível vida no eixo... sensível canto de paz
É a bondade visível,
A realidade intransponível
De um reino santo demais.

quarta-feira, julho 01, 2009

Pretérito. Perfeito...

Todo mundo diz que o nosso passado nos deixa marcas. Todos, de certa forma, já se viram vítimas dele. Outros sentem saudade enquanto outros o reprimem.

Sabe, eu tenho achado ultimamente que o passado não está com essa bola toda não. Sem me alongar, acho que o passado é aquele “primo distante” de quem menos lembramos na vida do que do próprio inimigo ao lado. O que eu quero dizer é que é mais divertido gastar tempo com coisas que são desafiadoras no presente do que imaginando os “futuros do pretérito” que nem existiram. Essas suposições sobre aquilo que poderia acontecer ou aquilo que poderíamos ter deixado de fazer são construções que erguemos quando, agora, não nos resta nada com que nos importar.

Pois bem, o presente é meu desafio de hoje. Ele sim me mostra coisas novas, diferentes. O passado não muda e tampouco pode mudar alguém. O passado só me mostra os fracassos daquilo que hoje não existe e as esperanças daquilo que, se hoje posso viver, devem me impulsionar a querer coisas novas.

Se o passado nos deixa marcas, nem todas as marcas nos trazem saudade.
A nostalgia que vale a pena é aquela que não nos deixa confusos quanto à dimensão de nossa mudança.

E mudamos.

sexta-feira, junho 19, 2009

"Aprendendo com o Melhor" (meu micro sermão para a turma de teologia).

Tema: “Aprendendo com o Melhor”.

Texto: Mt. 11.28-30; 17.1-8; 14-21

Na conjuntura atual de nosso mundo, o texto de Mt 11.28-30, embora bem conhecido por cristãos e não-cristãos, parece trazer consigo um entendimento fácil e uma adesão óbvia e esperada, mais do que a maioria das palavras de Jesus. (Gandhi chegou a afirma certa vez que os ensinamentos de Jesus eram tão profundos e valiosos que, se de todos os escritos do mundo, restassem apenas as palavras do Sermão da Montanha ao homem, este já teria todo o material necessário para aprender a viver bem diante de Deus e com o próximo). Sim, porque o Senhor do “vinde a mim” sempre acaba por encontrar espaço nos corações carentes e cansados das pessoas; parece mesmo soar como música aos ouvidos de quem precisa de paz...é uma troca que todos estão dispostos a fazer: o escambo entre os pesos terríveis que carregamos na alma e o fardo suave, o jugo leve...o afago de um Senhor compreensivo e auxiliador.

Entretanto, esta proposta de Jesus não se fixa apenas neste objetivo primário do alívio ao cansaço, mas se estende a um objetivo mais prático: o de fazer dos aliviados aprendizes, pois o “aprendei de mim” aqui se situa entre o descanso primário de quem vai a Cristo e o descanso da alma de quem o apreende a partir dEle mesmo, e não apenas “sobre ele”.
Pois bem, mas como aprender a partir de Jesus? É tão somente sabermos que ele é manso e humilde de coração? Isto é obvio e devemos imitá-lo, mas além disto, devemos busca-lo, ir a ele afim de receber dele mesmo a revelação de quem ele é.

Foi mais ou menos isso que Jesus fez ao chamar Pedro, Tiago e João – seus discípulos mais íntimos - para um encontro sobrenatural, uma experiência ímpar no alto monte, em Mt.17.1-8. Naquele momento, mais do que falar e fazer, Jesus revelou parte de sua aparência gloriosa àqueles homens; ele se mostrou como era. Além dele, Moisés e Elias, homens considerados como santos pelos judeus, venerados por séculos, verdadeiros ícones para os discípulos aparecem ao lado de Jesus para ratificar sua presença gloriosa. O que choca nesta passagem, entretanto, não é só imaginar a grandeza desta experiência, mas pensar que, diante desse evento inédito, Pedro não demonstra a reverência equivalente. Ele, na verdade, parece se tornar tão íntimo dessas grandes figuras que até propõe a Jesus que ficassem ali, abrigados nas tendas, por mais tempo, pois era muito bom estar entre eles.
Refletindo sobre isso, somos obrigados a considerar que o Senhor Jesus tem nos convidado a aprender dele, a caminhar juntamente com ele para experiências muito significativas e profundas, as quais muitas vezes sequer discernimos. Isto significa dizer que embora nos consideremos íntimos do mestre e tenhamos acesso a “grandes encontros especiais” com “ícones” de hoje, corremos o grande risco de, a exemplo de Pedro, esquecer a reverência e a fascinação diante da revelação de Jesus e querermos permanecer inspirados e confortáveis na companhia dos grandes homens de Deus.
Mas a palavra do Senhor, que se dirigiu tão clara e objetivamente a Pedro, também nos fala hoje que devemos aprender de Jesus, a partir dele, de quem ele é...não apenas irmos a ele e descansar, tampouco andarmos com ele e achar que o conhecemos porque fomos chamados a experiências privilegiadas. Enquanto fazia a proposta absurda e irreverente, Pedro é calado pela voz de Deus que exclamava: “Este é o meu filho amado, o meu prazer, a minha mensagem, escutai-o!”. É exatamente neste momento que a percepção dos discípulos sobre Jesus os obriga à prostração e ao temor.
A partir disso, Jesus os toca, os acalma e os levanta...Jesus novamente os chama ao enfrentamento com a realidade, com a planície, à multidão alvoroçada e aos outros discípulos perdidos diante das opressões dos espíritos na vida de um menino endemoninhado no v.14. Ali, Jesus desabafa que ainda nos falta aprender... Precisamos aprender a ser crédulos e ter um coração sem perversidade a fim de sermos servos úteis ao mundo, competentes no reino.
Que não tenhamos o pensamento de que basta irmos a Jesus ou caminhar com ele...antes, devemos aprender dEle, receber dEle, ouvi-lo, querê-lo, reverenciá-lo, discerni-lo como Deus poderoso e bom, que nos pode usar para sermos úteis, de fato, na realidade da planície.

Há ainda muito que aprendermos do Senhor. Assim como Pedro, Tiago e João aprenderam e se tornaram sustentáculos do Caminho, dos cristãos primitivos. O Senhor tem nos chamado a aprender dEle em nossas experiências e a partir dos outros, o senhor nos chama a trilhar suas vias de cruz e de glória, o Senhor já nos lavou os pés para anunciar a paz. Contudo, ainda precisamos ser cristãos dependentes, reverentes e transformados pelo Senhor Jesus se quisermos ser práticos e úteis na vida das pessoas às quais temos sido enviados em Seu nome.

segunda-feira, junho 15, 2009

"Desde sempre, o Verbo"

Verbo, Tu és o verbo
Palavra, a mensagem de Deus
O amor que Ele guardou
Para se revelar,
Revelar aos seus

Fonte de água corrente
Que jorra e finda toda sede
Sendo Deus, se fez homem como eu
Jesus, pra sempre rei


Doce a tua voz,
Foi tão fácil te ouvir,
Senhor,
Te contei minhas verdades e a verdade estava em Ti!
Abriste os meus olhos, me chamaste a te servir,
Viver teu evangelho,
Ver tua palavra se cumprir



E hoje, ao dobrar meus joelhos,
Buscando tua revelação,
Lendo a tua santa palavra
Aqueço a fé em meu coração

Tua fidelidade
É verdade e vai se cumprir
Porque tu és o verbo vivo,
Antes de tudo, eras Cristo -
A palavra de Deus para mim...


Doce a tua voz...





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(Resgatando minhas canções antigas...esta, de 30 de Março de 2006 13:32)

sábado, maio 02, 2009

É o que eu sempre digo...(retendo o que é bom)

Pois é. A cada dia me vejo mais eclética musicalmente. E o interessante é que meu senso crítico também se apura sempre...o que, de modo algum, significa dizer que abro mão e/ou descarto sumariamente aquelas canções e aqueles estilos que me ajudaram a construir minha identidade, minha história mesmo.

Este prólogo apenas para ratificar o que declaro exaustivamente: odeio rótulos. Uma prova disso é o fato de hoje ter me deleitado ao ouvir canções antigas (da época da "minha infância querida, que os anos não trazem mais...") do Mattos Nascimento.

Ei, ei...um aviso aos que se retorcem ao ler isso...estou falando de música, e, convenhamos, o cara é fera demais, um dos maiores intérpretes da música evangélica brasileira! Não me refiro aos arranjos, à produção de seus cds, à sua conduta e teologia...estou falando do mega talento do cantor Mattos Nascimento, sua competência em ser original, sua capacidade de trazer vida a uma canção sem muitos recursos a mais...dentro da musicalidade pentecostal é um grato destaque.

Sim, é claro que há influência de suas canções em minha caminhada cristã, o que em parte justifica essa minha simpatia, me ajudando a ser mais condescendente quanto aos demais aspectos musicais acima referidos, mas...a exemplo do outro "monstro" chamado Álvaro Tito, a família Nascimento continua me levando às lágrimas e aos sorrisos em suas canções, em suas interpretações muito menos ordinárias do que certas críticas preconceituosas e pouco imparciais...sejamos ponderados.

*Êta musiquinha maravilhosa:

Sou de Deus (Mattos Nascimento)

Minha vida é só cantando
O que devo mais fazer
Se liberto estou com Cristo?
Eu sou!
Eu não ando mais em trevas
Já brilhou pra mim a luz
Confio só nesse nome: Jesus!
Em minha vida, esperança
De um dia entrar no céu
E ele garante assim
Eu já fui triste demais
Agora tenho paz
Há paz em mim
Eu agora sou de Deus! (3x)
Eu vivo só pra Deus (2x)
Todo homem é iludido
O inimigo o atrai
Oferece muitas coisas e, assim, cai...
Jesus é a liberdade
Conquistou na dura cruz
Confio só nesse nome: Jesus!
A última esperança pra esse mundo é o Senhor
Entregue a ele teu sofrer...
A solução vai te dar
Venha como estás,
Jesus é a paz.
Eu agora sou de Deus...
Obs: E cá estou, contando as horas p/ ir apreciar, ouvir e cantar com o Gerson Borges, Jorge Camargo e outras jóias da música cristã brasileira...eclética, eu?! (risos)

segunda-feira, abril 20, 2009

Nossas justiças são trapos de imundícia.

Às vezes precisamos escrever certas confusões que surgem em nosso pensamento. Este, então, é um momento de alguma reflexão sobre algumas coisas que tenho observado nos últimos tempos. Coisas corriqueiras, voláteis, mas muito esclarecedoras, por outro lado.

Vivo a fase de perceber amplamente as injustiças do mundo. Sendo mais objetiva e pontual, as injustiças de mundo, já que o mundo já é injusto histórica e essencialmente. Pois bem, o que me perturba com as injustiças é o fato de elas, na grande maioria das vezes, se camuflarem entre o que é correto. Explico: nunca pensei sentir “saudade” do conceito de que injustiça é algo desonesto, pervertido, impróprio, desconexo, indevido, inaceitável e repugnante. Digo isto porque o que vejo é o descaramento da injustiça não fingida, mas manipulada, imposta como reta, com cara de justa e legítima. Essa injustiça conveniente e endeusada...a injustiça pop, que todos aceitam. Sim, a injustiça de hoje não é apenas suportada, ela é bem quista. E tudo por causa do capitalismo cool, do individualismo, da lei do toma-lá-da-cá intrínseca em todos nós, seres humanos injustos por excelência, propagandistas de nossas obras mortas.

Essa – que agora opto, deliberadamente, chamar de safadeza – está presente na corrupção nossa de cada dia, nas nossas omissões mais graves, nos nossos “mea culpa” mais ordinários e previsíveis. São os discursos que legitimam o caráter mau elaborado que os fortes têm e os fracos asseveram. São as cabeças reclinadas, afirmativas ou simplesmente vazias que preferem ignorar, não responder, não se envolver. E vejo que esse é o câncer da nossa raça humana: o não-envolvimento. Este câncer se alastra, nos toma por completo a ponto de somente nos envolvermos com aquilo que nos interessa, deixando o poder na mão de quem fez por merecê-lo e não por quem se tornou digno a ponto de tê-lo.

Justamente neste ponto é que constato minha vergonha, já que minha injustiça fundamental não me permite ser isenta e isentar ninguém, além de Jesus. Porque, não me é cabível outra pessoa tão justa e tão digna. Aliás, ele é o justo porque apenas ele possui essa dignidade no tempo eterno, o que implica dizer que Jesus Cristo não assumiu um poder, não fez por merecê-lo nem foi promovido na cruz...ele sempre foi digno em essência (não sendo esta uma mera atribuição) e isso se demonstrou em seus atos de justiça. Talvez por isso é sejamos viciados na busca pela nossa justiça, pelo nosso poder e pela nossa auto-afirmação: nunca fomos dignos. Nenhuma de nossas obras se inicia pela nossa dignidade e, por isso, temos a necessidade de fazer por merecer em tudo. Não nos rendemos à graça, não nos acostumamos a ela porque nada que fazemos possui essa motivação gratuita. Tudo o que procede de nós objetiva a vantagem e o interesse... até nossas doações, nosso voluntarismo. Estamos o tempo todo justificando e autenticando nossas atitudes e nosso caráter. Nada em nós nasce de nossa bondade desinteressada, de nosso amor puro e invariável. Quando o ser humano poderá amar o outro invariavelmente, se até o nosso amor a Deus varia o tempo todo, de acordo com a maré? E a nossa fé segue no mesmo barco...e julgamos Pedro!

Como o Eterno se dignifica nesse prisma! Como ele sempre foi superior a nós, conhecendo desde sempre nossa insignificante ânsia pelo mérito, pela dignidade que não temos, pela justiça que sequer alcançamos ou compreendemos! A esse Jesus todos veremos. Porque ele se envolveu...pelos outros, e não por si mesmo. Há diferença em se entender que a cruz consentiu poder a homens antes perdidos e não a Deus. A vida de Jesus veio a ser o mérito pelo qual o homem pode chamar Deus de abba, "paizinho", e esta injusta sentença tornou-se a graça que nos justifica. A nossa justificação carecia vir por ele. Do Cristo que nos revelou a justiça divina.

Nele, a nossa ânsia se saciará. Seremos finalmente fartos e livres dessa fome e dessa sede, dessa busca e dessa desolação. Seremos livres de nossa própria injustiça e indignidade. Porque nele somos feitos justos exatamente quando desistimos de o ser.

sábado, abril 18, 2009

Eu guardei as lágrimas.

Eu guardei as lágrimas,
Registrei para delas me lembrar
Eu me apropriei deste momento
E entendi que era necessário
Expus ao céu a minha queixa
Falei e calei...me deixei sofrer
Retomando a consciência de que
Não acredito no acaso

Guardei as imagens das dores
Que não me deixavam dormir
E pensei bem correta:
Que Deus as tem em sua visão
Sim, ele as tem.

Não posso mais acreditar na obviedade
De um lamento que não cessa.
Que busca um alento e não encontra,
Duma porta permanentemente fechada,
Duma ferida eternamente aberta,
De um lapso de memória perverso
Que me deixa esquecer que sou
Exatamente aquilo que ele me quer ser
Em seu Filho
Em seu verdadeiro e exato amor

Guardei as lágrimas como a recordação
De um passado passando,
De uma fé inexistente,
De uma esperança morta,
De uma necessidade malograda,
De uma justiça não saciada,
Registrei o momento de uma entrega
Sem reservas, sem forças e sem debates
Na hora em que o peito deitou um choro digno
Desse render-se

São as mudanças que se me anunciam
Que me fizeram e fazem chorar
Porque ao me transformar
Obrigo-me a truncar
As sobras, os restos, os lixos de mim
Obrigo-me a tirar aquilo que não me cabe querer e sentir
Forçoso se me torna ser alvo de uma restauração
Emergencial, não circunstancial
E as circunstâncias não subsistem...
...Como as lágrimas que guardei.

Como as lágrimas que, sei,
Ele, desde sempre, conheceu.

segunda-feira, março 23, 2009

Minha nova canção

Sim, eu componho. Mas a maioria fica na gaveta, por eu ser bem limitada em compor melodias. Essa não. Essa veio completa das mãos de Deus...sim, essa veio completa do meu coração moldado por Ele.
Espero cantá-la em breve.



O Porquê...

Por que eu não consigo enxergar o que preciso?
Por que é tão frustrante caminhar assim...só?
Por que eu sempre corro pro meu mal,
se a garantia do meu Deus
é que comigo estará eternamente?

Por que me é impossível perceber
e conceber todo esse bem
que Sua palavra prometeu?
Por que tudo o que eu faço não me traz
nenhum retorno, força não há
pra no caminho me alegrar?

Essa foi a dor da minha alma!
Esse foi o porquê que a angustiou
Mas o Senhor soube livrá-la
Do poder da morte, Ele tudo ultrapassou...
Como não sentir toda perda,
se Jesus, na cruz, se fez oferta?!
Doou-se, abriu mão, expôs seu coração
Pra que pudéssemos saber o porquê.

...pra que pudéssemos entender.

domingo, dezembro 28, 2008

Imensamente grata!




Feliz de quem sabe sonhar
Um sonho jamais chega ao fim...
É feito criança, revive a esperança
Do "não" sempre busca um "sim"!


Feliz de quem sabe chorar
O choro é o riso da dor
Chorar com quem chora refaz toda história
Transforma a tristeza em flor


Se a planta brotou, a semente morreu
Se o dia findou, o luar já nasceu
Pois tudo se encontra, tudo se dá em amor


A guerra findou porque alguém se rendeu
O medo acabou porque a paz renasceu
Não há compromisso se não houver Amor


Feliz de quem sabe esperar
E espera somente em Deus
Faz dEle a esperança, o sonho, a mudança
Lhe entrega os caminhos seus.



"Lembra-te também do Teu Criador nos dias da tua mocidade (...)"
Ec. 12.1

sábado, dezembro 27, 2008

24 anos.

Estou à véspera de mais um aniversário. E, como em todo ano, não faltam comentários e perguntas sobre o que vou fazer no meu niver. Também é comum nessa época eu começar a refletir mais que o de costume sobre tudo e eu mesma. Até porque essa bendita data se interpõe ao natal e o ano novo. É uma época naturalmente cheia de festas, retrospectivas, promessas e esperanças.

Pois bem, o que eu mais quero fazer no meu niver é: NADA. Sem forçação de barra, não estou animada – nem desanimada - pra fazer nada. E digo o que isso quer expressar, afinal: quero a quietude, ou melhor, a solitude. Há pouco tempo tenho entendido melhor a naturalidade desse momento pra mim e sua distinção da solidão. Não ando só, nem me sinto só como em outras épocas do ano (em alguns momentos, considerada “acompanhada”), apenas quero a paz encontrada em momentos íntimos com Deus, a exemplo do próprio Jesus. Nessas horas de quietude e reflexão, eu consigo ver tudo com mais clareza e sobriedade... Eu tenho muito mais satisfação sobre o que vejo em mim porque encontro a presença de Deus, ouço sua voz de uma maneira indubitável e emocionante.

Percebo como é difícil para os amados ao meu redor entenderem isso de uma forma natural e saudável. Quando respondo (meio sem jeito, confesso) que não quero fazer nada neste dia, sinto o grande constrangimento da suspeita de algum problema comigo. Estaria eu desgostosa, chateada, depressiva, triste afinal? Fico sem jeito em notar a preocupação desses íntimos, mais chegados. Mas Deus sabe que não se trata disso, absolutamente. Estou apenas tentando “reencontrar a minha alma” em Deus, perceber as grandes deficiências deste ser combalido pelo pecado e pelo caos de um mundo ruim, estou sonhando coisas novas e ainda ocultas parcialmente pra mim, como se germinassem novas aspirações dentro de um novo vaso. Eu não abro mão de tentar me parecer mais um pouco com o que fui criada pra ser. Rever a trajetória neste momento não significa lamber feridas e alimentar amarguras, antes, é notória e maravilhosa a convicção de não se querer mais enredar por histórias estranhas à minha. O Senhor meu pastor, o autor, tem colocado à minha frente o desejo santo de ter a minha de volta, bem encaixada em suas mãos. E, por isso, eu não preciso – e já não quero - fazer nada.

...Estou feliz... E contando os dias de uma maneira diferente.

Porque meu coração deseja a sabedoria – o conhecimento de Deus.





PS: Outro dia ouvi mensagem liiiiinnnnda do Caio Fábio, sobre aquela música linnnndddaa, "O Tapeceiro", do Stenio Marcius. Seria impossível ouvi-las sem lembrar de um texto que escrevi há anos, antes de ter contato com o ministério do Caio e muito menos com a canção do Stênio. Aproveitando a ênfase da mensagem e deste post, lá vai:



COLORIDO
(Joseli Dias – 22/12/2002)

Tudo começou em branco
E então comecei a rabiscar
Viajei em toda fantasia que pudesse me dar razões para continuar com meus rascunhos
De repente percebi que precisava de certa coerência em meus traços e fui entendendo aos poucos que tudo tinha o seu lugar; inclusive eu.
E essa foi uma grande descoberta. Talvez a mais importante.
E eu encontrei um lugar.
Acontece que eu não sabia por onde começar a peça da minha vida. Precisava de uns toques de um verdadeiro artista...
Na verdade, eu percebi que não tinha destreza o suficiente para pintar os elementos mais belos e necessários e que tudo precisava de um bom gosto jamais visto
Aí eu entendi que não era tarefa minha pintar o meu retrato, e sim escolher o pintor certo para tal...eu pensei em Deus – tão audacioso em suas criações, divinamente inspirado e perfeito por excelência – Ele sim poderia traçar as cenas da maneira mais real e com tamanha propriedade; afinal, Ele é Senhor no assunto.
Num piscar de olhos, Deus atuou...brilhantemente...pincelando os quadros da minha história com as cores mais variadas:

Cores tristes, alegres, de paz
Cores de beleza em toda parte, com glória invadindo meus poros
Cores de amor, de choro...muito choro, cores de raiva e de paixão
Cores de questionamentos e contentamento
Vitórias e aprendizados

Tudo como ilustração do realizar de Deus sobre mim e sobre todos nós.
Já não prefiro o desenho infantil que posso fazer em vez da obra de arte em que Ele transformou minha existência
Hoje sei que não sou uma tela vazia; tampouco um lambuzar, um desperdício de tinta.
O meu Pai me deu todo o colorido, fez combinações, “degradès” impressionantes. Ele sabe usar cada material. Ele é autor consagrado de obras fantásticas.
Providenciou a melhor moldura para o meu coração e lugar para cada coisa dentro dele.
E assim preferiu assinar eternamente os meus dias.


domingo, dezembro 14, 2008

DEUS comigo.

O salmista sempre é lembrado por suas lindas expressões no salmo 139, em que detalha como era magnífico perceber a presença e a sondagem do Senhor onde quer que ele estivesse. Ainda mais maravilhoso é notarmos com clara beleza que, ainda hoje, Deus não está apenas presente e à nossa espera nos lugares mais surpreendentes, mas pode estar, de fato, presente em nós, onde quer que estejamos. Dentro de nós: nos pensamentos, sentimentos, emoções. A melhor casa, o melhor tabernáculo que ele escolheu para Si é, sim, o nosso coração. Não importa o lugar, o momento, a circunstância...é maravilhoso saber que Ele é o “DEUS CONOSCO” - excelso, sublime e sempre bom.

Se hoje eu tivesse que explicar a alguém o porquê do meu amor por Ele, me negaria. Isto porque, previamente, eu teria de encontrar explicações sobre o Seu amor por mim. Aconteceu primeiro, antes. Encontrei algo que eu não procurava e o encontro a cada dia...

...meu cotidiano é marcado por buscas vazias e frívolas. Vivo em busca do que não é bom pra mim, me esquecendo rotineiramente do que tem valor eterno. Foi e é assim com a presença amorosa de Deus. Por vezes percebi que já não o procurava porque sentia falta de outras coisas infinitamente menores. Hoje já consigo entender melhor que não o procuro porque Ele, sabendo de minha débil noção de prioridade, resolveu habitar em mim.

O Senhor está sempre comigo porque me ama a ponto de não me deixar viver só comigo mesma. E tê-lo comigo - seja como, onde e quando for – é a mais grata surpresa de quem descobriu que o tesouro que não buscava estava depositado no próprio coração. E este era exponencialmente superior.

O tesouro que não se pode deixar de amar. O amável e maior bem que há.

(Eu te amo, meu Deus...)