quarta-feira, novembro 03, 2010

Não deixe que o passado feche seu coração para o que Deus quer fazer em sua vida.

“Não deixe que o passado feche seu coração para o que Deus quer fazer em sua vida e através de você.”

Bem, não tem como ir mais objetivamente ao ponto. É essa a idéia. Foi essa a fala que me veio ao coração há pouco. E eu prefiro acreditar que era, de fato, a voz do espírito que fala comigo e através de mim. O Espírito Santo, o Espírito de Jesus que habita em meu coração me aconselhou suavemente, mas nem por isso passou despercebido...

Foi então que lembrei de uma interpretação alternativa de certo pregador cuja mensagem ouvi há milênios, sobre a curiosidade de a passagem bíblica que diz que nada pode nos separar do amor de Deus[1] não mencionar o passado em sua listagem. Daí o pregador concluía que o passado pode nos separar do amor de Deus. Apesar de ser essa uma interpretação suspeita, não deixa de fazer pensar...de fato, nosso passado nos limita mais que qualquer outra coisa, se o deixarmos. Acho que deve ser porque ele é irrecuperável, intocável segundo a nossa percepção humana. Aceitamos a redenção de nosso presente porque ele nos está à mão, e de nosso futuro porque temos esperança, mas o nosso passado nos confronta com a peculiaridade de não poder ser redimido, de estar assentado em terra e sedimentado pelo tempo que não volta.

Talvez seja por isso que em dados momentos o ser humano se veja tão preso ao seu ontem. Porque ele se grava na memória e não se esvai, enquanto o tempo mais próximo de nós parece ser, também, o mais breve e passageiro. Mesmo com a dúvida do futuro, podemos esperar algo diferente. Nosso presente sempre é mutável, mas os dias que se foram nos desafiam justamente por não serem mais reais, por serem memórias de coisas boas que queríamos viver novamente, e de coisas ruins que gostaríamos de esquecer e não podemos. O problema disso não está na lembrança nem na limitação em viver o que se foi, o problema do passado é que ele é uma prova de que Deus controla a nossa vida completamente, que de fato ele a tem em suas mãos em detalhes e sabe de todas as coisas que poderiam – e podem – nos transformar em pessoas aperfeiçoadas pelos dias. Ora, mas qual o problema disso? O problema é a terrível dificuldade que temos de sabê-lo, de ver sendo desenhados em nossa frente os caminhos que Deus permitiu existirem para nos ajudar a fazer escolhas e sentir emoções que nos permitem enxergar a vida, as pessoas, a Ele e a nós como hoje – e só hoje – temos condições de fazê-lo. E como amanhã – e só amanhã, depois de hoje – teremos bagagem pra fazer também.

O desafio está em sabermos escolher hoje e amanhã o melhor do nosso passado. O estrato de sabedoria que só podemos recolher agora...e depois, mais. Por isso mesmo que o Senhor Jesus também disse que o homem instruído sobre seu reino sabe retirar coisas novas e velhas de seu tesouro[2]. Posso então concluir essa coisa tão óbvia: temos os recursos pra viver libertos e mais esperançosos que deprimidos, mais corajosos do que frustrados. Mas além dessa obviedade encontro dois princípios sagrados: o da liberdade de escolha, típica do Deus que ama, e a singularidade dos caminhos. Não há receita de bolo, os labirintos da vida não têm gabarito! Nossa história é cheia de significados particulares, importantes e ricos. E tudo que nos é obsoleto e mesquinho podemos deixar onde está; não precisamos trazer de volta à existência, como penitência, não há necessidade disso.

O Pai, de fato, tem preparado mais caminhos novos pra nós. Caminhos de novos dilemas e conseqüências; caminhos com novos recursos e soluções. Também, por certo, novos sentimentos e percepções nos aguardam. Mas o estrato final da nossa vida pode ser purificado. Como? Se não deixarmos que as impurezas de um passado mais antigo continuem presentes em nossa fórmula, em nosso tesouro, contaminando o resto que separamos para bom proveito. Não nos enganemos com o sussurro do maligno, que muitas vezes penetra nosso coração enquanto desprezamos a voz do Bom Pastor, que deseja nos orientar como salvar nosso passado desse estigma de “tropeço”. Sim, ele pode transformá-lo em ferramenta fundamental para dias mais sábios, mais acertados e mais puros.

Dias melhores podem vir...mesmo. Há uma nuvem de testemunhas[3] na torcida!



[1] Romanos 8.35-39.

[2] Mateus 13.52

[3] Hebreus, capítulos 11 e 12.