quarta-feira, setembro 08, 2010

A Santa Perseguição.

Como dizer de maneira diferente aquilo que já foi dito? Como reafirmar o que já foi diversamente registrado? Eu não sei. Mas às vezes surge essa vontade de dizer novamente o que já se sabe há muito tempo. Deus me persegue. Ele não me acompanha nem me acha. Ele me persegue, gruda mesmo, não me larga, não se afasta. Estranho demais isso. É estranho pensar no divino tão próximo, tão íntimo e tão leal. Eu não sei bem como funciona esse amor do Criador pelo ser criado, mas penso que as criaturas aqui não poderiam inventá-lo do nada, tirar esse amor da cartola... A quem pensa que o homem criou Deus, meu parecer: o homem não é tão humano assim! Só mesmo a matriz do ser humano, o seu projetista, poderia e pode nos fazer recordar, relembrar nossa profunda condição de carência, de gente que chora e sofre de solidão. Só mesmo um Ser tão maior que nós poderia ser mais humanos do que nós conseguimos. Tudo isso é estranho, mas inegável.

O fenômeno da graça, esse privilégio dado a quem nunca teria cacife pra receber, faz com que o divino e o humano, o poder e a fraqueza não somente se encontrem e convivam, mas se fundam! É complicado pra nossa razão fantasticamente limitada admitir a realidade de uma nova natureza, nascida de um encontro eterno. Deus e homem são reconciliados e redimidos na cruz. Sim, porque Deus não falhou nem se conformou à rejeição humana. Deus não presumiu que ser divino era o bastante. Deus não se garantiu em seu status quo porque desde sempre a sua mente era a mente do “adorado e amado”. Outra coisa estranha, mesmo que óbvia: Deus de verdade é Deus amado e não somente enaltecido. Deus de verdade é aquele único que consegue ser amado, desejado, querido e buscado com todo o coração, alma e entendimento. Ora, esses tantos deuses-ídolos alvos de bajulação interesseira parecem mais escandalosamente inferiores, baixos, vulgares... O Santo que é Justo é também um Deus de amor e afagos.

É esse Deus que me cerca por trás, por diante e põe a mão sobre mim. Pensar nessa cena deveria provocar uma revolução em nossa maneira de viver. Deveria nos gerar uma confiança inequívoca de que não há solidão com Deus porque não somos mais aquilo que éramos. Nascemos de novo, temos sua companhia nas entranhas, os poros, no coração, na mente, no corpo, em todos os lugares... Em todas as locações, ambientes e circunstâncias. É Deus que não deixa o homem. Esquisito; nada usual. Mas uma verdade. Verdade porque ele não enxerga a escuridão que nos cerca, atemoriza, envergonha. O Deus da luz enxerga tudo e nos alcança através de tudo, não importa quão espessa seja a camada de trevas... Bobagem, Ele não pede licença, passa e caminha por onde quer pra fazer o que tem em mente. É um Deus incontrolável. Alguém que não se restringe nem se acanha ou melindra com nada. Nem com o mal que me cerca e sufoca, nem com a dor que me cega... Nada é barreira, nada nos separa, não há mais véu.

Sim, como o salmista desabafa: tal conhecimento é grandioso demais para o ser criado, que mesmo tendo muito a criar, permanece criado, restrito, limitado e absurdamente frágil. E como explicar esse valor que Ele, o Senhor Todo-Poderoso, aplica a nós a ponto de tanto desejar o nosso amor, de tanto querer nos dar do seu amor, sendo adorado ou não?! Mas que maravilha de amor! Que maravilha de Deus veio viver em mim!

Um comentário:

O amigo do texto "Até hoje o que você fez?" disse...

Jose, se ainda não o fez, pense na possibilidade de escrever um livro. Seus textos, no estilo espiritualidade contemplativa, poderão fazer muito bem às almas cansadas e sobrecarregadas. Se assim você fizer, conte com meu apoio.