terça-feira, outubro 31, 2006

O valor das pessoas.

Ontem fui dormir me sentindo estranha. Foi uma noite aparentemente normal, mas a verdade é que teve algo que mexeu comigo. Como há muito tempo não acontecia. Tanto, que chorei enquanto orava em minha cama antes de dormir. Chorei como não fazia há certo tempo também.
Vi uma cena forte. Ainda agora quando me lembro dela, me emociono.
Ontem na primeira aula no seminário, o prof. passou um documentário sobre o evangelho de Judas. Até aí, nada de novo...estou ficando especialista nesse negócio porque suas aulas sempre redundam nesse tema...mas o que me emocionou foi uma cena meio que sem razão de ser inserida no tal documentário. A cena em que mostra uma suposta cristã sendo sacrificada na arena, para entretenimento dos romanos. Aquilo mexeu comigo por vários motivos. Mexeu profundamente.
Primeiramente, porque qualquer espécie de sofrimento, mesmo que fictício, me entristece. Acontece que ali eu pensava na realidade daquela cena, na verossimilhança externa que ela tem, mesmo que essa seja remetida a épocas remotas. Aquilo foi um fato, aconteceu mesmo! Se não daquela maneira, com certeza de forma parecida ou até pior! Várias pessoas sofreram terrivelmente por professarem Jesus. A cena daquela mulher cozinhando naquela cadeira de tortura enquanto seu filho era arrastado aos berros fez com que eu me sentisse extremamente pequena. Minha vontade dentro daquela sala escura era de me encolher em algum canto e chorar diante da dor. Dor que muitos sofreram de verdade por terem verdadeiro compromisso com Deus.
Fiquei ali me perguntando e ainda me pergunto: o que eu tenho entendido como compromisso com Deus? O que eu tenho encarado como viver o compromisso da fé em Jesus? Ainda tenho pensado sobre isso. Não que eu seja masoquista e ache que Deus prefira sacrifícios à obediência. Não que eu pense que todos foram chamados à mesma sorte. Não que eu acredite que hoje não soframos na alma, que não gemamos diante desse mundo horrendo os pavores de morte que já assombravam o salmista no salmo 39...eu mesma tenho vivido dias cercados de pavor. Sei que é necessário às vezes passar por vales profundos. Já passei por muitos e sei que são nesses vales que conhecemos a glória desse Deus dos nossos discursos. É exatamente nessas horas que vemos o valor que temos pra Ele e o valor de Sua vida em nós. Eu conheço a dor, eu já a experimentei por amar a Deus ou por decidir não deixar de amá-lo. Mas ainda ficou essa questão no meu coração: por que nos perdemos tanto diante da dor a ponto de esquecer o valor que Ele nos dá? Até o nosso sofrimento nos mostra o Seu amor por nós...mas como entender tamanha loucura?!
Naquela cena eu consegui ver algo além do sofrimento da mulher. Eu vi um enorme valor. Valor...palavra desgastada em nossa sociedade. As pessoas estão perdendo o valor. Estão as transformando em artigos...artigos de entretenimento, como aos romanos. E às vezes, constato pasma, nós mesmos servimos de platéia! Quantas vezes estamos rindo, nos divertindo com a desgraça dos outros...rimos dos infelizes que aparecem nos programas de TV sendo ridicularizados por suas deficiências físicas...viram artigos de entretenimento os feios, os obesos, os de rosto bizarro, os anões, os diferentes. A miséria do espírito humano se transforma em graça nos vídeos terríveis que circulam na internet. É o bêbado oprimido pelo vício, que vira tema de funk...é a doença que transforma uma pessoa numa aberração ambulante, que não consegue mais sensibilizar a ninguém, é a capacidade de as pessoas se martirizarem em busca de alguns trocados no show bussiness, que passa como boa ação diante dos nossos olhos...é a deturpação de princípios sendo encarada como “o que há” de mais autoafirmador para os jovens alienados aos valores de Deus.
Somos platéia da dor dos outros, do vazio, das carências...nos divertimos com o sofrimento das pessoas, quando não enxergamos o valor que Deus vê nelas. Mas eu acredito que, assim como aquela personagem sofredora, há hoje pessoas que sofram com a dor dos outros, que ainda se sensibilizem diante da vida, do valor que Deus dá a ela. Não...apesar de paradoxal, eu não acredito num Deus sádico, não acredito que Ele estava na platéia. Porque Ele me ensinou a não sentar na roda dos escarnecedores. De fato, mesmo sabendo que essa roda existe e muitas vezes nos seduz, Ele me ensinou a não entrar nela. A não brincar com a dor dos outros, a não rir do que lhe ofende, a não ser indiferente ao valor que seu próprio Filho Jesus pagou por cada uma delas. Custou caro. Custou a vergonha e a “espetacular” dor do Herdeiro de DEUS. O próprio Cristo teve consciência da dor, mesmo estando tão acima dela, como Deus. Ele se fez homem, Ele veio sorver todo o sofrimento e todo o valor dos filhos dos homens. Em Jesus está o maior valor da vida. Como podemos minimizar isso?!
Aquela mulher me mostra que o que “passa batido” pro mundo é, aos olhos de Deus, de extrema importância. Ela me traz descanso ao coração quando penso que nada se compara ao olhar de Deus. Atento e justo.
Eu quero ter esse olhar. Eu preciso enxergar valor nas pessoas, em suas dores, em suas carências, em suas qualidades. Ninguém é descartável, obsoleto, menor. Todos somos iguais...Suscetíveis a quedas e risos, a atitudes vergonhosas e à honradez. Todos temos valor aos olhos atentos e justos de Deus.

4 comentários:

Daniel Bravo disse...

não por não prestar atenção ao texto todo, mas por me chamar atenção a essa verdade, todos temos valor - inestimável, diga-se de passagem - aos olhos do Pai.
bom testo, e, quem me dera ter essa sensibilidade com a dor alheia.
Deus te abençoe, josi.

Daniel Bravo disse...

testo???
errata: texto.

Joseli Dias disse...

Amém, né...
(cara, vc riu!!!) Misericórdia, hein...rs

Unknown disse...

Jo...mto bom esse texto...queria poder olhar as pessoas assim, como Deus olha pra nós...queria poder não só ter essa sensibilidade ao sofrimento alheio, mas, me incomodar e fazer algo para mudar..."Pai, ajuda-me!!!"
Bjos paulistas pra vc!!!