sexta-feira, março 04, 2011

A igreja dos homens e a Igreja de Deus.

(Enquanto lia um texto sobre eclesiologia hoje, me lembrei desse desabafo que escrevi quando tinha 19 anos, num momento de profunda lucidez a respeito da igreja - com "i", com "I", tanto faz...rs. Resolvi resgatá-lo aqui, por ocasião de senti-lo ainda tão realisticamente coerente. Só desiste da Igreja do Senhor quem não sabe o quanto ela lhe foi cara, custando a morte do Cordeiro, Jesus. Só insiste na igreja dos homens quem ainda não aprendeu a chorar pela preservação da Igreja santa que ele vem buscar...e que ele assiste a cada dia com profunda compaixão e ternura. A igreja do Senhor é a vida dele sendo relembrada no meu coração. Por ela choro e sofro. E com ela, sou acrescida de vida e ardente esperança!)



A igreja pode decepcionar.
Os homens podem fracassar.
Porque Deus denuncia o que está errado. Porque Ele revela o que está escondido.
O Senhor Jeová nos chama para debater, nos confrontar. E os Seus argumentos são melhores porque a Sua luz aclara e mostra onde estão os erros... E Ele nos enche de "ais".

Eu estava me perguntando como podemos encontrar o equilíbrio...balancear o nosso modo de agir mediante as falhas que residem em nós e nos outros? Tenho percebido que, quando não somos negligentes com os erros que incorrem na Casa de Deus, somos revoltados, religiosos e descrentes. Como não fechar os olhos para o mal que insiste em manchar o caráter dos filhos de Deus e conseguir, simultaneamente, conservar a comunhão inabalada? Como é possível, meu Deus, viver a unidade se os corações se fecham e não se usa a mesma linguagem? Como honrar o Teu nome, se o Teu trabalho, a Tua riqueza, o sustento da Tua casa e o nosso próprio senso de retidão não têm sido honrados?
Tudo o que tenho vivido nesses dias tem servido pra me mostrar a Tua misericórdia e a Tua justiça. Sempre vou me lembrar que, não importa a dor que tenhamos que experimentar, contanto que dessa nos resulte um novo valor para o temor agora desgastado. O temor que desgastamos com as nossas "próprias mãos", com os nossos próprios pensamentos e ações.
Muitas vezes sinto que queremos tomar a frente de Deus nas coisas que são Suas, totalmente Suas. É como se lançássemos mão de algo que não é nosso e usássemos como quiséssemos, nos sentindo no direito de agir assim. Outras vezes, a vaidade nos domina a ponto de acharmos que realmente merecemos ser considerados grandes servos, "ungidões" pelo fato de termos um relacionamento sincero com o Pai...se quando, na verdade, quando o temos, só podemos chegar à conclusão de que não somos nada diante da Sua dignidade e que só temos relevância pelo Seu amor, através da cruz.

Quando digo que a igreja decepciona, escrevo igreja com "i" minúsculo, pois me refiro à igreja que criamos e não aquela Igreja fundada por Jesus. É muito importante reconhecer a diferença entre elas. A Igreja que Cristo fundou nunca falirá, nunca morrerá, nunca perecerá. Mas a igreja que os homens criaram decepciona, frustra, diferencia, se envaidece, não se esclarece, se camufla, tangencia as grandes questões (e as pequenas também). Essa é a igreja com a qual insistimos em cobrir a integridade da Igreja do Senhor - essa é a igreja para qual migramos e achamos conforto para nossas debilidades e pecados. .
Cuidemos muito de nossa vida com Ele a fim de organizarmos Sua casa dentro de nós porque, se o interior estiver desarrumado, encoberto, violado ou fraudado, Ele não vai entrar...disso eu tenho absoluta convicção...e a sujeira não pode se acumular se não, só mesmo na aspereza, no "esfregão espiritual" é que o Pai irá tirá-la de nossas vidas.

Não é por sermos crentes que não temos que nos redimir. Embora salvos, sinceros e consagrados, precisamos nos lembrar sempre de quem somos e de quem é esse Deus com quem estamos tratando (quem é esse grande Deus com quem teremos de tratar Um dia!).

Na Igreja de Jesus, Deus olha para o culto enquanto os homens examinam seus corações. Na igreja dos homens, esses olham para o "culto" enquanto Deus só consegue enxergar o que há nesses corações. Isso acontece porque as prioridades são diferentes, a visão é diferente e o fundamento é diferente.
Cansei das meias palavras. Cansei de ignorar a realidade que é a igreja dos homens. A Igreja de Cristo é muito mais real e firme pra mim...mesmo que ela me obrigue a ir para o deserto, a me modificar, a desacreditar que sou mais ou até mesmo igual ao que os homens sempre me fizeram acreditar que era. A Igreja do Senhor me nivela pela minha vida e não pela minha aparência. A Casa de Deus me acolhe nos meus dias maus. A igreja dos homens exalta, mas não preenche. A igreja dos homens fala muito, mas não fala tudo. A igreja dos homens não é uma casa...é um tablado.
Eu não quero ser casa rebelde. Mas eu também não me interesso mais pela igreja dos homens...eu quero ser sempre Casa de Deus.



(Joseli Dias – 16/06/2004).




Arrematando de forma exemplar, trecho de A natureza e a tarefa da igreja*:


"Somente Deus sabe quem realmente crê. O ser humano é incapaz de identificar, sem margem de erro, o lobo disfarçado de ovelha (cf. Mt 7.15). Por isso, a verdadeira igreja está oculta. Como não se pode separar já agora o joio do trigo (Mt 13.24-30), a igreja antiga incluiu a igreja entre os objetos de fé: “Creio... na santa igreja cristã”. Aliás, esta fé na igreja não se compara à fé no Espírito Santo, que introduz o terceiro artigo do Credo Apostólico. Pois a confiança integral nós a depositamos não na igreja, e sim, no Deus triúno. A igreja não possui poder salvador por si mesma. Por isso, na verdade, não cremos na igreja, e sim, a igreja. É este o sentido do Credo, ou seja: nós cremos que a comunhão dos santos e verdadeiramente crentes existe, em meio e através de todas as denominações. A santa igreja cristã não é ilusão. É realidade, a despeito de possíveis evidências em contrário.

Portanto, há uma diferença entre a igreja que cremos e a igreja que vemos. Nenhuma instituição eclesiástica tem o direito de se igualar à primeira. Somente o juízo final vai revelar o verdadeiro rebanho do bom pastor (cf. Mt 7.21; 13.30). Todavia, isto não permite o desprezo às igrejas concretas que procuram trilhar a senda do discipulado. Pois a igreja verdadeira não existe à parte das instituições eclesiásticas. Está oculta em meio a elas. "

(Prof. Verner Hoefelmann – EST)



Um comentário:

Paulinha disse...

é isso aí Jose!
Devemos ser a Igreja de Deus, a Igreja que luta por uma causa: Jesus Cristo, e a proclamação do Seu amor e evangelho!
Cada dia mais!!!