Há poucos anos atrás, tirei um tempo para conversar com um grande amigo – desses raros, que sabem ouvir com a alma e verdadeiro interesse pelo que está além das palavras - e ele, em sua doce empatia, compartilhou comigo uma lição que lhe ensinaram a respeito do amor. Ele dizia que uma vez se interessou por uma mulher e foi conversar com ela a respeito de seu sentimento. Disse a ela que gostava muito dela, que a via como uma pessoa realmente especial. Qual não foi sua surpresa ao receber a resposta sincera da moça: “Ok, é muito bom saber que você me considera e tem esses sentimentos por mim, querido. Mas eu preciso te fazer algumas perguntas bem sérias: Até hoje, o que você fez em relação a mim a fim de demonstrá-los? De que forma você age para fazer com que eu realmente me sinta especial pra você? Lamento ter de dizer isso, mas até hoje você não fez absolutamente nada neste sentido e, infelizmente, seu interesse por mim não é o bastante pra mim.” Com toda a franqueza, não me lembro do nome nem faço idéia de quem é a tal mulher que lhe disse isso, mas tenho absoluta certeza de que suas palavras tocaram o caráter daquele rapaz e vieram ao encontro de tudo aquilo que eu sentia naquela ocasião e, por isso, jamais esquecerei desse princípio.
Eu sempre entendi o amor dessa forma em que ela resumiu. O amor precisa ser factível, quase palpável. Além disso, ele precisa ser exeqüível... Qualquer coisa menor que isso deve ser considerada como sentimentalismos infantis ou qualquer outra ilusão cretina. O amor platônico, do mundo das idéias e das hipóteses, não é nem de longe parecido com algo digno e dignificante. Ele confere cargas e injustiças para os dois lados e se alimenta da mentira diabólica. Ele é o mal camuflado de bem, pois é egoísta e manipulador. É o interesse utilitário, frívolo e absolutamente leviano, que se expressa bem em palavras e atitudes menores, fáceis e aleatórias. É inconstante porque, de tanto sonhar, foge da urgência real e nunca está presente quando poderia ser necessário e até útil. De fato, nunca será útil, uma vez que é inconveniente e ensimesmado. Como seria bom se mais homens e mulheres acordassem para a honestidade de seus sentimentos errados. Haveria mais espaço para o verdadeiro amor nascer se grande parte das pessoas não se contentasse com tão pouco e não se rendesse ao que não importa. Mas para muitos, ainda é preferível fingir pra agüentar o tranco. Fingir que ama e fingir ser amado. Há quem prefira viver mal-amado e mal-amando contanto que não se precise provar nada; contanto que não precise abrir mão de nada. Quão infeliz é esse “amor” que limita!
E, pra variar, minha memória trabalha em torno das palavras de Cristo, aquele que soube amar até o final e desde sempre... Aquele que não se deixou impressionar pelas performances humanas e nem agiu antes de sentir. Lembro que Jesus comprovou a qualidade do que sentia por nós sem a tagarelice dos discursos óbvios e convenientes e sem a vaidade típica de quem ama muito menos do que deseja fazer crer. Em contrapartida, foi ele mesmo que exigiu a prova, mostrando que o amor que estava disposto a receber deveria passar pelo crivo da coerência e da transformação do caráter. “Pedro, você me ama? Então faça aquilo que eu faria”. “Pedro, você me ama? Prioriza o que toca a minha alma”. “Pedro, você me ama mesmo? Tome as minhas dores pra você!” “Pedro, você me ama? Transplante o meu coração para o seu peito, sinta o que eu sinto, seja um comigo!” O verdadeiro amor nos evolui.
Quem entende a verdade do amor não pode mais viver e agir da mesma forma, negando ao ser amado o devido resultado de quem se doa. Quem decide viver o amor de Deus não é capaz mais de fingir ao outro que ama errado. Quem assume o amor, assume a conta, seu bônus e ônus. Quem ama de verdade faz da vida do ser amado a sua própria e já não aceita mais que ele morra por causa de sua omissão.
Louvo ao Pai amoroso por ter amigos que me ensinam a amar. E fico extasiada em pensar que o amor de seu filho me dá o direito de viver além do que eu seria capaz se me rendesse à camuflagem dos amores falsificados, encharcados da perversidade do orgulho e do medo. Sempre guardarei em minha consciência o quanto é belo e profundo o amor que dá continuidade à vida de quem até mesmo já morreu... Porque o verdadeiro amor nos prova... E nos joga na vida.
5 comentários:
LIndo, Joseli. Muito lindo.
Não é só lindo. É também uma pedrada bem dada no quengo! Certeira. Pra refletir muito. Valeu!
Ahuahauahua!!!
Dênis, vc é demais, cara...adorei!!! rsrsrs
Simplesmente fantástico esse seu texto! Espero que outros leiam e aprendam o que é amar! É muito fácil dizer "Eu te amo", mas muito dificil ter atitudes que realmente correspondam esse amor. É exatamente nesse ponto que descobrimos que quem está ao nosso lado realmente nao nos ama!E estar com alguém por estar, é melhor não estar! Eu experimentei isso!
Postar um comentário