quarta-feira, setembro 10, 2008

Meias verdades

"A verdade não é questão de convencimento; a verdade é questão de revelação."



Essa foi uma das grandes frases ditas pelo Pr. Ed René Kivitz no I Encontro Renovare Brasil, na Barra da Tijuca, nesse último final de semana. Dentre as muitas coisas boas e profundas que ouvi, hoje essa frase me cai bem em minhas elucubrações, embora esteja um pouco fora de contexto...Pois bem, o contexto original também é fantástico. Kivitz abordava a questão da espiritualidade na pós-modernidade, dizendo que o diferencial está justamente no fato de que não há uma classe ou um grupo considerado como detentor da verdade absoluta (como outrora, com a Igreja Católica e a própria ciência); ou seja, hoje não existe a concepção normativa do que seja a “verdade”, por isso tantas pessoas simplesmente não aceitam o evangelho – ou qualquer tipo de mensagem ou ideologia – como verdade. Tudo se restringe ao campo da opinião, da escolha, do ponto de vista. Há infinitas “verdades” nesse mundo em que vivemos. É aí que Kivitz afirma que, nesse ínterim, a mensagem do evangelho não precisa ser uma luta por melhor argumentação pois, de fato, no cristianismo a verdade é uma pessoa: Jesus. O logos encarnado de Deus se apresenta como aquele em quem reside a plenitude da verdade. Então – finaliza Kivitz – essa é uma questão de revelação. A quem o Filho se revelar, será descoberta a verdade.

Além desse belíssimo ponto de partida, permito-me enveredar por outras linhas de pensamento, outros aspectos dessa reflexão. Há algum tempo tenho pensado sobre essa normatividade da verdade em nossas mui distintas perspectivas enquanto humanos que somos. Nas relações e nas interpretações a respeito de nossos conflitos permanece o princípio. A verdade não está com ninguém senão o Justo. Ninguém pode, por mais racional e consistente que possam ser seus argumentos e razões, determinar a verdade dos fatos a não ser o próprio originador da vida. Mas não são raras as vezes em que nos afligimos na busca por legitimação da verdade em que cremos; que queremos justificar nossa forma de enxergar e responder às questões que nos envolvem.

O que eu tenho refletido a esse respeito é que se trata de uma tarefa ingrata. O que acontece é um interminável esforço e nenhum retorno satisfatório, já que a verdade que eu “possuo” nunca será verdade na vida do outro por imposição e/ou convencimento. Além disso, a verdade de Cristo vai além do que podemos alcançar, discernir. Por essa e outras razões nos surpreendemos com a reformulação dessas nossas “antigas verdades” ao nos depararmos com o nível das atitudes de Jesus (vide a frase de chamada desse blog).

Atualmente, tenho reavaliado muitas coisas. Muitas verdades acabam sendo reveladas a nós à medida que nos aproximamos do Senhor e conseguimos perceber a discrepância entre o seu caráter e o nosso. Por outro lado, isso alivia nossas cargas. De fato, quando experimentamos deixar que a Verdade se revele em nossa história, as antigas percepções se esclarecem e, não raro, sofrem mutações. E aí a preocupação pelo convencimento do outro deixa de ser regra mestra; passamos a ser os convencidos por Cristo. A consciência do outro não nos fere porque a nossa vai sendo tratada. A possibilidade de convencer alguém se constitui novamente papel de um Deus que se revela. Então, se há embate de consciências e posturas, a fórmula não é nova. A referência, a “regra mestra do Mestre” continua sendo o referencial único e capaz de flagrar, transgredir e revelar meias verdades.


“O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos. Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.” (I Co 13.8-12)

4 comentários:

Pod papo - Pod música disse...

Ótimo texto. O mundo ensina a cada um viver sua própria verdade mas, à quem Deus se revelar, esse viverá a verdade de Cristo!

Beijinhos!

André Decotelli disse...

O problema é quando a verdade se torna ideologia...quando nos alimentamos dela para usá-la como objeto de opressão e submissão alheia. Não somos donos da verdade,mesmo que acreditemos nela como única, não a temos como nossa. É de Deus, por isso a revelação é necessária.Muito bom texto colega!!hehehe!

Anônimo disse...

Amei o texto e esclareceu pra mim muitas coisas que vivo. Penso muito na verdade revelada em Cristo, mas as vezes me frustro tentando argumentar e defender algo. Percebo agora que não preciso defender nada nem tão pouco tentar convencer ninguém de nada. Pois, "a verdade é uma pessoa: Jesus!" Esta frase disse tudo.
Abraços!
Visitarei sempre seu blog.

Anônimo disse...

Ah me chamo Glauce Souza
Jequié-BA