terça-feira, maio 11, 2010

Esse amor surpreendente

O amor de Deus pode a tudo alcançar. Pode trazer recomeços a quem só enxerga o próprio fim. É capaz de finalmente curar o desespero e abatimento de espírito daqueles que estão exaustos de bater à porta.

O Deus que se revelou em Cristo é bom e sabe sorrir. Mesmo quando a resposta esperada é a punição, ele é capaz de mostrar um “caminho sobremodo excelente” (I Co 13.1). E nesse caminho, de fato, há gente prostrada, há gente à própria sorte. Gente que se inchou e se apertou na via estreita; gente que desanimou e resolveu parar. Gente tomando fôlego para continuar e gente querendo voltar atrás.

Mas a grande bobagem está em acreditarmos num amor pontual, reservado para os finalistas, os atléticos do bem... Sim, há recompensa para os fortes e resistentes. Para aqueles que não fazem do caminho estreito uma desculpa para sua indisposição e descaso. É claro...há prêmio e alegrias maiores reservados para os que correm para o alvo com paixão e comprometimento.


Entretanto, convenhamos, o amor de Deus não é estático, tampouco indiferente. Não se trata aqui de uma adulteração humana que transfigura o amor em um “discurso orgulhoso do bem que espera fazer”. Pelo contrário, temos ouvido e visto falar de um Deus que ama em iniciativa, que busca suas ovelhas, que se rebaixa à condição humana, que chama pelo nome e se apresenta sem cerimônia. Por isso é possível crer que esse amor nos alcança no caminho e, mais que isso, no caminhar. Não se reserva a camarotes privilegiados dos grandes campeões mas, sobretudo, é a fundamental segurança de assessoria e companhia na caminhada. É água e alimento para os subnutridos e inspiração para os abatidos. O amor de Deus é mais do que temos esperado e sentido. Ele é a grande e alegre notícia de que podemos vencer o medo de seguir em frente.


“Jesus chamou seus discípulos e disse: ‘tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que eles estão comigo e não têm o que comer. Não quero despedi-los em jejum, para que não desfaleçam no caminho’”. (Mt 15.32)

terça-feira, maio 04, 2010

Força para viver. (tinha que ser do Ed René Kivitz...)

Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.

Viver é muito perigoso, dizia Guimarães Rosa pela boca do memorável Riobaldo. A vida tem mesmo seus altos e baixos e, além da dificuldade de saber a direção, falta a cada um a força e a competência de seguir em frente. Os obstáculos se multiplicam. A vida é contingente: cheia de imprevistos e surpresas, boas e ruins. Uma proposta para morar longe, um diagnóstico inesperado, a chegada de um bebê, um assalto, um desmoronamento, o cancelamento do vôo, a festa de aniversário, os amigos ao redor da mesa e a demissão inesperada. Além disso, a doença da mãe, o imposto de renda, as aventuras dos filhos e o sobrepeso, obesidade mesmo, denunciada pelo espelho e pela calça que já não se usa mais. E tem também a teimosia dos vícios, as dores da alma, a insegurança emocional, os conflitos relacionais, a culpa, o medo, a ansiedade e a síndrome do pânico – ai que medo. Tem que arrumar o quarto, buscar a roupa na lavanderia, votar para presidente e superar o divórcio. O show não pode parar. E porque viver é muito perigoso, aprender a viver é imperativo.

Como enfrentar a travessia? Já que navegar é preciso e viver não é preciso, como dizia o poeta português. Viver é necessário. É preciso viver, não há que desistir da vida. Mas viver é perigoso, justamente porque não é preciso – não é exato. Não é possível singrar a vida como quem corta os mares. A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá, disse o Chico brasileiro.

Acho que foi por isso que o sábio Salomão começou a escrever seu Eclesiastes. Queria aprender a viver. Dedicou o coração para saber, inquirir e buscar a sabedoria e a razão das coisas. E concluiu que a verdade está no distante e profundo. A vida é mistério. Viver continuará sendo sempre perigoso.

Então apareceu Jesus. Não negou a contingência da vida, nem iludiu os seus com promessas falsas e fantasiosas. Mas apontou um caminho. Apresentou seu Pai aos homens e os homens ao seu Pai. Autorizou todo mundo a buscar, usar e abusar de seu Pai.

Jesus disse a todos: Chamem pelo Abba. Ele os ouvirá. Falem com ele em meu nome. Batam na porta. Busquem. Peçam. Gritem. Importunem meu Pai, de dia e de noite. A porta se abrirá. Vocês acharão o meu Pai. Vocês receberão respostas. Serão recompensados pela sua busca, jamais ficarão sem galardão. Meu Pai é atento e cuidadoso. Meu Pai é bom. Meu Pai é amor. Não tenham medo dele. Não se escondam dele. Não fujam dele. Corram para os braços dele. Ele cuida de flores e passarinhos. Vai cuidar de vocês. Sigam os meus passos. Foi o que fiz. Fechem a porta do quarto e façam suas orações. Eu atravessei a vida de joelhos. E venci. Eu venci o mundo, eu venci o mal, eu venci a morte. E vocês também poderão vencer. Não desistam. Não tenham medo. Viver é perigoso. Mas a graça do meu Pai é maior que vida.

2010 | Ed René Kivitz