terça-feira, março 23, 2010

Tu me amas com amor eterno.

Tu me amas com amor eterno
Com aquele mesmo amor que me atraiu à cruz
Em minhas lembranças sempre vejo o teu carinho de Pai, a tua proteção sempre foi óbvia, marcante em minha vida.
Eu te achei no perdão mais necessário da minha existência, no dia em que fui devastada pela dor, Senhor...abriste meus olhos, concedeste-me o teu espírito para que eu pudesse enxergar a graça e a esperança de viver com a tua vida poderosa dentro de cada espaço de mim.
Desde então e desde sempre te senti e também te amei...dividimos os dias e as noites, as angústias e vitórias, dividimos o melhor e pior de mim, dividimos tudo, Deus.
Hoje não há dúvidas; hoje não há medo a respeito desse amor que já me concedeu tudo...e mais. Jesus não foi apenas o meu resgate mas, sobretudo, é o maior tesouro da minha vida, o amor provado em todos os momentos, a transformação da minha consciência, a paz da real liberdade, a certeza inabalável, a esperança imortal...Jesus sempre foi, é e será tudo, todo amor com que me amaste, Pai...com que me abraças, Espírito Santo!
Jamais esquecerei que sou como a menina de teus olhos. Isso não é a conveniência de um ser carente, mas a convicção de uma pessoa tua.
Eu sou tua, Deus. Como sempre fui, como sempre serei. Sem dúvidas, sem medo. Eternamente.

Dá um pouco de amor para Deus

Dá um pouco de amor para Deus
Principalmente pelo fato de Ele não te cobrar
Dá, oferece, presenteia
Com um pouco de amor, abre mais teu coração

Não é preciso ser um gênio para notar
O quão desonesto é esse jogo de interesse
De quem vai ao Pai como bastardo, em busca de sua providência;
Quem ainda não vive como filho, quem não vê nem ama o Pai sempre o procura por interesse. Sempre requer sua ajuda, e às vezes até o julga em sua condição de Pai. Bastardos não amam o Pai. Bastardos não têm Pai...

Mesmo assim, o Santo Filho veio nos mostrar que todos podemos ser filhos; todos fomos criados para amar o Pai.
Mais que isso, todos fomos feitos por causa do amor de Deus.

Por isso – e melhor pensando -, dá todo teu amor a Deus
Voluntária e humildemente, busca-lhe para fazê-lo sorrir, elogia, exalta o seu ser!
Dá amor a Deus sem pensar no retorno, sem intenções dúbias, maldosas.
Dá do teu melhor amor.
Daquele mais sincero e maravilhado... Aquele amor genuinamente bondoso, sem a leviandade da obrigação.
Dá o teu mais forte e profundo amor a Deus.
Aquele amor que faz arder as lágrimas de quem não se imagina sem Ele, aquele ardor de quem o deseja como Senhor, de quem o adora em prostração, de quem discerne sua santidade.

O verdadeiro amor de um Pai encontra o verdadeiro amor de um filho
O verdadeiro filho ama seu Pai.

E quem ama, se oferece, se doa para o agrado e bem do outro.
Deus, o Pai, já deu tudo pelos seus filhos.
Se és filho, dá do teu melhor amor a Deus.




(Joseli Dias – 03/07/2009).

quarta-feira, março 10, 2010

ORDENAÇÃO DE MULHERES AO MINISTÉRIO PASTORAL.

* ensaio apresentado à disciplina Ministério Pastoral, no último período do curso de Bacharel em Teologia, pelo STBSB. Minha menção ao Dia Internacional da Mulher.


A temática da ordenação pastoral feminina não é nova, porém permanece sendo necessária no meio evangélico tradicional, em especial na Igreja Batista, onde a grande maioria das mulheres vocacionadas ainda não são convocadas ao concílio, salvo casos especiais.
Sou mulher. E, obviamente, fui menina, criada na denominação. Mesmo sendo muito envolvida nas atividades da igreja, é de se presumir que esta construção social em torno da ordenação pastoral feminina não despertasse minha atenção, em especial. Afinal, sou da época em que a maioria das igrejas batistas não acatavam as palmas, nem dançavam e tinham sérios problemas com o rock e as mulheres que vestiam calça...de toda forma, guardei na lembrança um episódio que muito me chamou a atenção, quando ainda era uma criança de 5/6 anos e estava ensaiando uma participação para o culto da manhã, juntamente com o coreto de crianças de uma modesta igrejinha Batista, em Tanguá – RJ:

Cristo tem amor por mim
Com certeza, creio assim
Por amor de mim morreu
Vivo está, por mim, nos céus
Ama os meninos,
Ama as meninas,
Ama os meninos
Jesus, o salvador1



Parece bobagem dizer, mas as palavras daquele hino surtiram efeito em minha débil noção infantil. Em sua inocência, esta criança se perguntou: Mas por que Jesus ama mais os meninos do que as meninas?! Ora, nada mais expressivo à sensibilidade de uma pequena garotinha do que a repetição do verso “Ama os meninos” no hino em questão, especialmente porque este seria dividido em vozes – os meninos cantariam os versos deles enquanto as meninas cantariam o verso delas.
A bem da verdade – e sem apelar - a realidade de nossas igrejas não tem sido muito diferente, na prática. É evidente que muitas barreiras sócio-culturais já foram transpostas com o passar dos anos, entretanto, permanece a distinção entre homens e mulheres, sobretudo no que se refere ao ministério pastoral – como nos convém neste ensaio.
Primeiramente, não se pode desprezar que a própria concepção de que “a mulher tem conquistado o seu espaço” já constitui, por si só, um paradoxo flagrante: o pressuposto de que a mulher já tem um espaço, mas que ainda precisa conquistá-lo. É concebido pelas maiorias que as mulheres permaneçam nesta “busca”, tornando ilegítimo e extraordinário um direito primário de nossa Constituição: o de que todos são iguais. De fato, os cristãos de hoje ainda têm muito que aprender com o evangelho de Jesus Cristo que, na prática, fazia valer este princípio. E esta também não é uma ideia inédita ou desconhecida para a maioria dos crentes, mas muito pouco praticada, de fato.
A questão do ministério pastoral feminino vem, mormente, sendo abordada a partir de uma teologia paulina mal fundamentada. Os textos são trazidos para a realidade vigente de forma abrupta, sem maior preocupação acerca das condições para sua aplicação. Remetendo-nos ao contexto específico é, sim, possível encontrarmos falhas de interpretação em textos como o de I Co 14.33b-35:

Como acontece em todas as igrejas dos santos, estejam caladas as mulheres nas assembléias, pois não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz também a lei. Se desejam instruir-se sobre algum ponto, interroguem os maridos em casa; não é conveniente que uma mulher fale nas assembléias.



Este texto, amplamente abarcado no argumento contra a legitimação do ministério pastoral das mulheres, pode ser caracterizado como uma glosa – uma espécie distinta de deuteropaulinismo, como nas palavras de Michel Quesnel:

Trata-se, provavelmente de uma glosa de escriba da época patrística. Por que tal conclusão? Porque a tradição escrita não é estável quanto a esses dois versículos e meio: certos testemunhos os situam em outro lugar, depois do verso 40. E, acima de tudo, porque, se eles fossem de São Paulo, o apóstolo se contradiria singularmente em suas afirmações. De fato, ele mesmo escreveu anteriormente, em I Co 11.5: “Mas toda mulher que ore ou profetize com a cabeça descoberta, desonra a sua cabeça” (...) mas está escrito que ela ora e, na Antiguidade, só se orava em alta voz. Está igualmente escrito que ela profetiza. Ora, como profetizar sem abrir a boca e sem falar? 2



Sendo comprovado o estudo de Quesnel, fica evidente que o texto não pode ser considerado legitimamente de Paulo, devido à contradição explicitada acima. No entanto, o que causa espanto é o fato de, na eventualidade de o referido texto ter realmente sido escrito por Paulo, existiria, assim uma imensa irresponsabilidade na aplicação do ensino. E isto se manifesta da forma mais lógica possível. Se o texto fosse escrito por Paulo, de fato, as mulheres deveriam, hoje, permanecer com as cabeças cobertas nas igrejas, e caladas. Ora, não é possível que a aplicação de um texto seja feita de forma unilateral. Pelo contrário, se hoje já é possível que a mulher “exerça um pouco do seu espaço” dentro da realidade eclesiológica, quer falando, profetizando, pregando, ensinando, visitando, ministrando, exortando etc, por que, naquilo que se refere à legitimação de seu ministério, ela não pode ser reconhecida? De todas as formas, as interpretações construídas sobre a realidade da mulher pastora, a partir de alguns textos paulinos – cuja cultura notoriamente se demonstra como fator preponderante, face às influências semíticas e greco-romanas da época – confirmam a maneira leviana como o assunto tem sido abordado pelas grandes lideranças da denominação, ao conferirem valor bíblico a uma questão política. Sim, pois se não fosse assim, as mulheres deveriam permanecer seguindo “os moldes bíblicos” do véu (cabelo comprido), do silêncio irrestrito e da ausência de opinião.

O que constrange e envergonha a denominação é o fato de mulheres legitimamente vocacionadas, capacitadas, dispostas e comprometidas não poderem ser reconhecidas pela igreja naquilo em que dedicam as suas vidas. São mulheres que, mesmo se formando neste seminário e servindo às suas igrejas como os demais colegas – homens -, deverão se contentar com o título de Bacharel em Teologia e o vergonhoso “tapinha nas costas” de sua denominação, que se esquiva da responsabilidade, atribuindo a questão ao foro íntimo de cada congregação. Ademais, o problema é político na medida em que se traduz como reserva de mercado, de modo que um ministério que também pode ser considerado e tratado como “profissão”3 confira benefícios somente ao gênero masculino – nada mais escandaloso para a igreja diante da realidade trabalhista de nosso país, que já não é um modelo de justiça. Ainda há um longo caminho a ser trilhado neste sentido. Não ignoremos, porém, que tais posturas adotadas e condescendidas pela igreja são capazes de saltar aos olhos e inquietar até mesmo um coração inocente de uma criança.



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Notas:

1. Primeira estrofe e refrão do conhecido hino “Jesus e as crianças”, nº 542 do CC – itálico nosso.

2. QUESNEL, Michel. Paulo e as origens do cristianismo. Tradução Paulo Ferreira Valério. 2ª ed. São Paulo: Paulinas, 2008. p. 126.
3. Não confundimos uma coisa com a outra. Utilizamos a comparação devido ao fator sustento corroborado pelo ministério pastoral nas igrejas, o qual é negado à mulher que o exerce.